terça-feira, 17 de setembro de 2013

Acidente

Hoje eu assisti a um acidente. Leve, mas um acidente. De carro. E sei  de todos os  problemas que vêm com a batida... angústia, b.o., seguro, oficina, dinheiro...
 acidente de carro, mesmo sem vítimas é um saco de vivenciar.
E ainda por cima, me senti culpada pelo que aconteceu.
História: estava eu dirigindo na pista da direita em uma avenida com duas pistas. Uma mulher parada esperando para atravessar a avenida, com um bebê no colo, na faixa de segurança. Parei. Eu estava em velocidade baixa e não foi difícil parar antes da faixa. Me senti orgulhosa porque tenho gostado de nós brasileiros aprendermos a respeitar as leis de trânsito. Fiz para ela o movimento com a mão de "por favor, passe!", e ela, receosa, olhou por cima do meu carro o movimento dos carros da pista da esquerda. Enquanto ela calculava a possibilidade de passar ou não, eu refleti que ela tem razão, nem todos obedecem a parada na faixa para o pedestre, mas ainda fui mais longe, os motoristas, apesar de ainda incultos, estão dando de dez a zero nos pedestres, que são poucos, os que aprenderam a atravessar a rua usando a faixa, ainda mais em uma cidade pequena como a minha, cheia de manias culturais impróprias... Cheia de razão em ter medo e cuidado com ela e seu bebê, continuou olhando para os carros que vinham e eu,  também olhei para o movimento que acontecia na outra pista, pelo retrovisor.
Eles não estavam longe, mas parecia que  poderiam diminuir a velocidade, e ela, não tão confiante, começou a travessia pela frente do meu carro, ( já  parado) e foi olhando para se certificar que os outros parariam. Então... o primeiro parou. 
O segundo não parou. 
Pelo menos, não antes de bater no primeiro. Detalhe: atrás do segundo havia um ônibus que também não vinha em velocidade baixa, mas este conseguiu frear.
Primeiro, o  susto. Depois, a  impotência.
 A mãe atravessou na faixa e eu saí da cena, porque passava, naquele instante, um carro do departamento de  trânsito, que já fez meia volta e foi para onde aconteceu a colisão.
Mesmo sabendo que eu fiz o certo, me senti culpada pelo que aconteceu com os carros ao lado e ainda assim, voltei a refletir.
Refleti o  quanto nossa ansiedade nos permite perder momentos.
Eu sou uma pessoa ansiosa em nível master, então, eu faço uma afirmação com o título de Presidente do Clube dos Ansiosos. Título que é concedido por mérito mesmo. Logo, eu sei do que eu estou falando.
Imagino, que não exista uma folha sequer que caia de uma árvore sem fazer parte de um sistema universal inteiro: uma ação gera outra, que afeta um alguém, que gera outra ação, que afeta outro alguém e por aí vai, infinita e universalmente.
Imaginem, quantas mudanças num universo inteiro, isso porque alguém estava com mais pressa, ou ansiedade e acima da velocidade, e impossibilitado de frear.
 Nem estou colocando em jogo a responsabilidade ou a imprudência, porque todos nós, seres normais, já demos um deslizezinho qualquer. 
Observo o quanto acelerar qualquer processo na vida, pode alterar tantas outras coisas, e pior, modificar para muito mais tarde, uma programação inteira, que você adoraria resolver o mais rápido possível.
Me choquei com o quanto de vezes, por imprudência com a minha vida, acelerei, ou ansiei por conquistas, mais rápido do que poderia recebê-las e me machuquei, ou perdi ainda mais tempo, tentando recuperar o que a minha ânsia e expectativa tinham feito em mim. 
Quantas e quantas vezes, principalmente quando dependemos de alguém ou de um esquema inteiro, nos desdobramos, sofremos, não dormimos, culpamos, nos desgastamos... tudo para fazer no tempo que imaginamos ter que fazer, e não no tempo que o tempo precisa, pra fazer acontecer.
Me vi sendo inúmeras vezes a pessoa que perde o restante do dia resolvendo a burocracia, a chatice e os telefonemas que  uma batida da vida demanda quando eu, por ansiedade, imprudência ou imperícia, acelero meus momentos e acabo vivendo outros, com sabores muito diferentes daqueles que eu esperava. E longe de ganhar meu tempo, vivendo com tranquilidade, respirando da forma certa, degustando cada momento... perco meu tempo consertando o que fiz mais rápido e que deixa consequências ainda mais caras, como meu estômago ardido, minhas noites de sono perdidas, minha pele cansada e meu humor instável. Logo, pago com minha saúde.
Eu percebi hoje, que acidentes acontecem sim, não sabemos os porquês, a vida tem disso... às vezes, coloca um carro a parar na nossa frente, quando não atravessa um caminhão inteiro numa estrada. 
Porém, teremos mais chance de conseguir frear, se o foco for no entorno ou à  frente... olhando a paisagem, sentindo cada momento. 
Tentando não adiantar o que a vida tem para dar.

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