sábado, 21 de junho de 2014

Pessoas fracas nos causam cicatrizes. Por serem fracas, andam armadas e suas armas, em geral, ferem nossas almas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

E... seja o que for, que seja sempre verdadeiro. Porque, de verdade mesmo, em tempo integral, poucos sabem ser. E que os dias sejam felizes, porque acabarão sendo, ao lado de quem nos faz bem. 

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Aos namorados


Se vocês são namorados é porque existe uma faísca.
Existe o que você contempla: o que te encanta, o que te vibra.
Se vocês são namorados, com o outro você se contenta e este te complementa.
Vocês veem reflexo, transparência e verdade.
Sendo vocês namorados, existe amor. Seja em qual nível for, porque a cada um cabe entregar só aquilo que consegue conhecer em si. E amor existe em vários níveis.
Já que vocês são namorados, existe desejo. E esse desejo deve ser completo: em carinho, atenção e sexo.
Aos enamorados, o respeito deve ser mútuo. O outro é outro, mesmo estando com você, ele não será apenas seu. O outro é alguém que deseja estar com você. E esse desejo se esvai se existe sufoco.
Ao ser namorado, você deve entender o que o outro também tem seu espaço, e este espaço não deve ser pequeno: deve ter o tamanho que o outro precisa para poder respirar livre.
Devem entender  que o namorado tem outros gostos, gêneros... Musicais, teatrais e de vida. E para fazer parte delas, você precisa ser suporte e não empecilho.
Quando namorados, você devem ter lealdade, partilhar ideais e sonhos, porque a lealdade vai muito além de fidelidade (que, aliás, nem vem ao caso, porque a fidelidade e culpa têm diferentes conceitos dentro da cabeça de cada um).
Enquanto namorados, vocês devem sorrir. Vocês devem rir, porque não há fator mais importante para estar perto de alguém, do que aquele te fazer tão bem a ponto de te fazer uma curva. E que estas curvas sejam sinceras, espontâneas, mesmo que rindo de situação não contornável, mesmo que rindo da própria desgraça.
Sendo namorados, que exista confiança. Porque desconfiança é gravata que aperta, estrangula e desconforta.
Que exista carinho, mesmo sendo só um abraço silencioso, enquanto lágrima escorre em culpa.
Que não exista distância, mesmo quando o território físico se fizer presente. Porque o que aquece a um namorado é o amor emanado, e não só o corpo presente.
Que existam presentes, nem que seja um “bom dia” em mensagem, ou qualquer pequeno ato que mostre o quanto existe importância em ouvir, ler, querer bem e saber do outro.
Que existam datas importantes e momentos para serem comemorados, porque a quem se enamora, é necessário celebrar alegria.
Que haja alegria a cada encontro, a cada noite dividida.
Que pequenos momentos sejam também importantes, e que todos os momentos juntos compensem a ausência que se fez necessária.
Que haja entendimento e sabedoria para o passado ficar onde está. E que todas as ações presentes sejam como um belo embrulho enfeitado, para terem motivos a continuar em frente.
...

Que se, por acaso, aconteça qualquer mudança de rumo e alguém precise ir embora... Que haja transparência e verdade, conhecimento e causa, que tudo seja dito e ouvido com frases completas. E quem for embora, vá com o coração limpo e quem ficou, aprenda a não precisar convencer o outro de sua escolha.
...

E que seja qual nível vocês estiverem, entendam, procurem e se esforcem para serem sempre enamorados.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Quem conta um conto

Escrever é terapia.
É forma de deixar a alma transbordar.
Quem escreve ratifica em palavras, assina em documento o que pensa, o que respira, o que faz o coração vibrar.
Todos somos capazes de escrever. É só deixar tudo que temos no coração esvair.
Disse Ernest Hemingway (adoro citar esta frase): 

“There is nothing to writing. All you do is sit down at a typewriter and bleed.”

(Não há nada para escrever. Tudo o que você precisa fazer é se sentar em frente de sua máquina de escrever e sangrar).

Escrever é fácil, basta querer. Basta ter um tempo. Basta se expor.
Colocamos os dedos em um teclado, e deixamos a vida acontecer exatamente como ela tem que ser: com espaço entre ações, com pontos, com vírgulas, com reticências. Com letras maiúsculas e minúsculas. Com substantivos, adjetivos. Com artigos definidos ou indefinidos.
Quem escreve, assina a pessoa que é.
Só podemos diagnosticar aquilo que já vivemos ou que temos como memória/reflexo.
E apesar de todos os pesares, nada como um pesar para permitir sabedoria.
Sabedoria se adquire após acertos prudentes.
Prudência se adquire após acidentes.

E a vida acontece no meio disso tudo, enquanto se erra e se acerta.
Enquanto permitimos que pessoas entrem e saiam, e nos modifiquem.
Enquanto sangramos e cicatrizamos.
Enquanto sorrimos ou choramos.
Enquanto estamos acordados ou dormindo enrolados em nossos sonhos ou a alguém a nos aquecer (seja a alma, a memória ou o próprio corpo).

Para Pablo Neruda: "Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias." 

Para mim, fazer um conto é como viver. Quem vive a própria vida, intensamente, é capaz de escrever. Mas é ainda mais capaz de fazer história.

E melhor que escrever um conto qualquer, é poder ser história ou  fazer parte da história de alguém.

domingo, 8 de junho de 2014

A minha dor na alma


Queria eu poder esvair em lágrima 
tudo o que enche minha alma, 
e sentir, aos menos por alguns instantes, 
alívio, mansidão  e plenitude.

Queria ainda, respirar profundamente 
e sentir meu pulmão completo de vida 
(ou ar, seria suficiente).

Queria que meu coração batesse 
como um dia já bateu... firme, feliz, forte... 
como nunca antes havia sentido... 
aconchegado, como um cachecol enrolado, 
em uníssono pulsar.

Queria receber mais do que dúvidas, 
mais que pensamentos vagos,  
mais do que lembranças distantes e 
memórias paradas em foto.

Queria aprender a ser distante
e em distância ser paciente, 
enquanto aguardo em momentos brandos 
qualquer retorno, qualquer motivo.

Queria ser não tão clara, 
ser até um pouco secreta, 
para que procurassem em mim segredos, 
e que estes mistérios 
me fizessem mais interessante.

Queria estar menos pronta, 
menos à disposição.
Ser menos inteligente, 
ou independente, 
ou querida, 
ou qualquer outro predicado que junto com os outros, 
permita que a culpa nunca seja minha 
e sim de quem não pode 
ou não quer ter tudo isso em uma pessoa só.

Queria ser menos verdadeira.
Queria pensar menos.
Queria sentir menos.
Queria só não ser tanta desculpa 
para quem vê tudo e não quer nada.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Eu conheci o Rafael

Eu conheci o Rafael

Se eu fosse tentar adivinhar, chutaria que ele é dinamarquês.
Cabelos loiros quase brancos,  corte próximo a militar, olhos azuis, rosto arredondado, olhos expressivos, lábios carnudos. 
Lindo, simplesmente lindo.
Uma confusão em sua família fez com que o Rafa sentasse ao meu lado. Para minha surpresa, ele é português. Na família de quatro pessoas, uma precisou ficar separada e o escolhido foi ele, para minha felicidade. Na verdade, eu me intrometi na decisão e ofereci o meu lado e companhia pra ele, acho que ele também foi com a minha cara, como eu com a dele.
Eu levantei e ele se sentou junto à janela.
Eu não sei quanto à vocês, mas eu tenho uma dificuldade absurda para entender o português de Portugal. Preciso, praticamente, de uma tecla SAP, ou algumas horas para me acostumar, ou alguém que tenha a paciência de repetir  uma sentença inteira pra ver se eu entendo, ao menos, o assunto principal. Eu não teria toda essa disponibilidade de tempo, mas tinha um companheiro de viagem incrivelmente simpático e gentil, que me ganhou ali, de cara: quando começou a sua apresentação, perguntou meu nome e idade. Quando eu disse trinta e oito, ele fez (meio que) uma careta de decepção, mas sorriu e complementou: "ainda assim é muito bonita!" E me ganhou, em atenção, em interesse, mesmo sendo só gentil... e destravou minha dificuldade com o tal português original. Agora eu queria conversar com ele MESMO! 
Ele tem seis anos de idade.
Rafael me contou tudo. De onde vinha, para onde ia: veio ao Brasil visitar a mãe, que está em "Horizonte", como ele define, esquecendo da palavra Belo. Não investiguei o por quê estarem separados (mãe e filhos), achei inoportuno, mas vinham com ele sua irmã "mais pequena" a Catarina, e a "mana mais grande", a Natale. O pai, ele repetiu três vezes o nome e eu desisti de entender, mas estava junto.
O Rafa não conseguia entender o tamanho e a distância do Brasil. Nem o tamanho do território brasileiro. Na verdade, ele achava que saía de um Brasil para o outro Brasil, se referindo a cidades diferentes. "Senhor Paulo" foi o primeiro Brasil que ele pousou e agora decolávamos para Horizonte o outro Brasil, onde está sua mãe.
Eu mostrei um mapa desenhado na revista de bordo (confesso TAM, fui eu, lá na poltrona 26E, mas eu precisava): Rabisquei Portugal, fiz uma linha até o Brasil, mostrei o tamanho do Brasil. Mostrei "Senhor Paulo", mostrei "Horizonte", isso tudo antes mesmo de 'descolar'.  Ele não conseguia acreditar que Portugal, que é tão grande, ficava tão pequeno perto do Brasil. Fizemos uma linha do seu voo. Ele reclamou que foi obrigado a fechar a janelas no voo grande.
Ele me falou que está enamorado da Adriana, que também tem seis anos, é do seu colégio. Contou até trinta sem errar um número sequer e depois continuava a contar os decimais de um até nove, e quando chegava no inteiro, ele dizia "trinta" e eu o corrigia dizendo qual era o correto e ele prosseguia contando. Foi até meio exibido na contagem, como quem mostra suas habilidades.
Falou de polícia, bombeiro, ambulância, sirene, bandido, desmaio, roubo.
Questionou o por quê as pessoas roubam. Eu respondi, de cara, bem caretona mesmo, que é porque o sujeito tem preguiça de trabalhar. Ele me disse que não acha, ele acha mesmo que é porque o cara quer andar no carro da polícia com a sirene ligada. E eu me senti uma ridícula, e percebi o quanto o mundo infantil é mesmo encantador, eu teria que entrar na onda dele, deixar de ter razão e ouvir um pouco mais.
Ele pegou o cartão de segurança e começou a interpretar as figuras dali. Toda a sua interpretação era errônea, mas como eu estava decidida a  ouvir mais e falar menos, ouvi procedimentos incríveis, como: "o avião está proibido de pousar na água. Se for sair do avião pra entrar na piscina, tem que segurar uma mala.""Se pegar fogo no avião, tem que usar o escorrega" e ainda perguntou: "Se eu for usar o escorrega posso levantar as mãos e gritar?" Eu disse: 'deve!'
Ele perguntou se asa quebrasse, se um raio caísse, se batesse numa pedra. 'Aqui no alto? Não tem pedra!', eu disse, mas insistia em querer ouvir a resposta que o avião poderia se espatifar. Quando eu entendi que era isso, expliquei que um míssil poderia derrubar o avião, mas isso só acontece na guerra, e que o Brasil não estava em guerra (menti sobre nossa guerra interna pra não fazer mais confusão na cabeça do guri).
Ele ficou contente com a resposta.
Falamos de praia, calor, jogar bola. De vez em quando ele ria alto e falava "seu nariz não está a funcionar!", tirando um belo sarro da minha congestão nasal,  ganhada pós voo Europa/ América do Sul, com diferença de vinte graus e que neste voo piorou consideravelmente. E ele, mais uma vez, estava correto, em alguns momentos, meu nariz não funcionou, e ele ria ou gargalhava.
Às vezes, seu pai o repreendia, olhando para trás e pedindo para ele parar de falar. Mas eu fiz aquilo que eu detesto que façam quando eu corrijo um dos meus filhos: dizia que estava tudo bem, não tinha problema, como quem tira a ordem do superior. Mas eu precisava ouvir o Rafa. Ele é sensacional.
Ele não se convenceu que não sobrevoamos o mar. As áreas escuras, ele insistiu que era. Viu até barco, com luz e tudo. Aí, era minha vez de rir e dizer que tudo aquilo era árvore. Mas estava escuro e ele não quis saber.
Pedi um 'sumo' de laranja pra ele. Ele se encantou com o fato de copo não cair do buraco da mesa. Disse não gostar de torradas, mas comeu o petisco inteiro do saquinho.
Nós já estávamos cúmplices, ele me contou segredinhos e eu também contei alguns meus.
Na hora do pouso o pai dele o recriminou de novo, disse precisar fazer silêncio. Ele, com os olhos arregalados, no desespero de me dizer alguma coisa. Eu entendi e me inclinei com o ouvido para ele, para ele poder cochichar. Ele sussurrou: "Eu estou tão excitado!" E sorriu, lindo, aquela mistura de inocência, espera, encanto e sabedoria dos seus poucos anos.
Pousamos e ele não desatou os cintos até a hora que o sinal luminoso não se apagou. Ainda recriminou aos outros apressados. Mas assim que pôde, abriu o dele e o meu. Pediu licença e saiu rápido para a segurança do seu pai e a necessidade de ver a mãe.
Antes de sair, inclinou a cabecinha para mim e disse: "Eu fiz uma ótima viagem, obrigado". E quase me fez chorar, com tanta educação.
Ele saiu com a família.
Fiquei imaginando o desespero, o compasso do coração, a vontade do abraço, o tanto de coisas que aconteciam ali naquele corpinho.
Saí do avião muito, muito depois deles, mas ainda assim os vi esperando as malas na esteira de bagagens.
Eu fui embora antes. Precisava ir, porque acompanhava uma tripulação inteira.
Se o aeroporto de Confins não ficasse tão longe da cidade de Belo Horizonte, eu teria pego um taxi só para poder ver o encontro deles ali.
Arrisquei tentar descobrir, nas mulheres que estavam no desembarque, aquela que teria a expressão de quem espera por ele.
Mas eram muitos rostos expressivos e ansiosos. Não consegui descobrir.
Detesto história sem final. Mas eu precisava dividir essa.
Mesmo que seja para dividir a decepção de não ter presenciado o encontro da mãe com o lindo Rafa que eu tive o prazer de ter como companhia, em um voo, que só seria mais um voo.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Quem sabe com alguma sorte


Ai.... tem dia que cansa, né?
Tem dia que a alma pesa, que o coração chora, que a gente quase desiste, não é?

Bom, só sabe desse sentimento quem se entrega, quem está à disposição, quem acredita em amor, quem acredita em doação, quem faz o bem sem olhar para quem.
Mas tem um dia, algum dia ou alguns dias, que é você quem precisa de ajuda. Precisa de colo, carinho, cafuné, ouvido, atenção.

Nessa hora, pode ser que fique sozinho. Porque gente com o seu perfil costuma ser considerado "forte". E quem é forte, os outros, julgam ser autossuficiente.

Pra quem sempre está sorrindo, sempre deixando o ambiente alegre, aos outros parece que a vida é tão mais fácil e que preocupações ou intempéries não existem.
Esse tipo de gente, não pode se dar ao luxo de fazer uma só queixa, porque os outros se afastam, eles querem só sua alegria.

E a vida segue, com decepções contínuas, e você, o que acredita em retorno de boas ações, segue fazendo o bem, nem que seja para deitar ao travesseiro e suspirar, com lágrimas nos olhos, por mais um dia de missão cumprida.
Sempre escrevo: a gente não sabe a batalha interna que as pessoas travam. Não sabemos os monstros que as pessoas enfrentam.
Por quê não olhar a quem te pede socorro com um pouco mais de carinho, mesmo este sendo uma fortaleza aos seus olhos?
Nós não nascemos sozinhos, e para mim, ainda, o grande sentido do vida, é entregar a quem precisa um pouco do que se tem.

Mas algumas pessoas insistem em ir embora. Insistem em culpar ausência. Insistem em não retribuir.

Isso não será um problema.
Continuemos em alguns vários bobos, que seguiremos disseminando boas ações, a quem precisar, em qualquer unha encravada que o outro tiver.
Às vezes a gente reclama, às vezes a gente se chateia, às vezes a gente quase desiste.
Pode ser por um só dia, pode ser uma temporada, pode ser uma TPM.
Mas quem nasceu bobo, achando que o amor é o maior remédio que existe, ainda encontrará a quem doar, e com alguma sorte, recebe de volta, de qualquer mão que exista no Universo, o que precisa quando estiver com dor.