terça-feira, 27 de março de 2018

De Márcio, a cadeira

Sob a cadeira
poesia de uma vida inteira 

Em uma caixa de papel grosso
Pedaços de impressos soltos
Contêm  as letras de mãos unidas
Dançando na revoada
Do poeta, as ideias soltas 

Sob a cadeira de madeira
Poesia de uma vida inteira

Entalhadas em folha pautada
Entre tintas e garranchos
Os sonhos e solavancos
De quem, de amor, fingindo sofre
Ou sofre, verdadeiramente amando

Sob a cadeira de madeira inteira
Poesia de um vida e meia

E há quem saiba que nessa caixa
Tem mais experiência do que invento
Além daquele - do próprio poeta -
Quando finge conhecido tormento?

Sob a cadeira de uma vida inteira
Poesia de qualquer maneira

E nesse escritório considerado
Nesse nada enfadado arquivo
Exprimem-se dores, amores, cores
Dos tantos sentimentos já sentidos

Sob a cadeira de qualquer maneira
Poesia meia ou poesia inteira

Nesse tanto, papel riscado
Criativo sonho arquivado
Representa um fado ou teatro 
Quando da caixa tirado

Sob uma vida inteira
Poesia encaixa ligeira

Porque tudo que nasce 
De tal poeta 
Exprime amor retratado
E tanta vida, tanto poema
Não deve ficar guardado 

Que saia de sob a cadeira 
Poesia de uma vida inteira

* Homenagem à Márcio Azevedo, homem cuja cadeira oculta precioso arquivo.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Da poesia, o dia

Da poesia, o dia
Do amor, a agonia
De toda dor, heresia 
qual poeta esculpia. 

Porque sem dor, maresia
de torpor e utopia 
qual amor fingiria 
e à francesa, sairia.

Mas qual causa repudia,
se amor não seria
fingir dor e alegria
em conhecida freguesia?

Seja amor ou mania
que a distância silencia
traz à tona poesia
quando do seu tema, 
de amor,
de rancor,
de torpor, 
e de temor se sofria.