sexta-feira, 30 de novembro de 2018

E você? Sente o quê?

Sabe, gente...
A gente nunca sabe o que o outro carrega consigo. A gente não é capaz de,  em uma conversa, em uma história, em uma sessão de terapia conhecer alguém. 
A gente NUNCA, nunquinha vai ler o livro do outro como ele escreveu, de fato. O papel não era nosso, nem a caneta, nem a tinta. 
A gente sempre vai ler com os olhos que a vida deu, com a bagagem e a experiência que têm. Com o alfabeto que aprendeu. 
Somos todos seres errantes, flutuantes, viajantes, navegantes, sei lá. 
Somos todos almas etéreas presas obrigatoriamente em corpos que cortam, e egos que ferem ainda mais. 
Tudo isso para dizer que é preciso ter respeito demais com a história do outro, e reforçar que quando alguém conta o que sente, a gente precisa é aprender a apenas ouvir, ouvir com o coração e não com uma interpretação imediatista e egocêntrica. 
O mundo já está cheio demais de gente que é dono da verdade e cheio de razão. De gente que errou pra caramba, mas precisa apontar o erro no outro para o dele diminuir. Gente que ouve uma história e imediatamente começa a contar a sua, fazendo daquele que procura ajuda, apenas expectador. Gente que tem uma vida oca e precisa danificar a vida do outro para trazer algum movimento à sua.
A gente precisa urgentemente aprender a ouvir e a silenciar uma vontade louca de ser mais, melhor ou saber muito.
A gente precisa urgentemente aprender a ouvir e ponto. 
E, de repente, quem sabe, aprender a ter compaixão de verdade. 
Porque a compaixão é você identificar aquilo que o outro sente como sendo seu. 
Mas... mais uma vez: é preciso entender demais sobre sentimentos para poder entender ao outro. Porque só sentindo muito e sentindo profundamente a muitos sentimentos é que a gente consegue ler o livro de alguém e tornar esse livro tão importante quando aquele que a gente mesmo escreve. 
Normalmente, um bom leitor já deu umas topadas na vida. Já caiu, já ralou e continuou a caminhar mesmo
mancando. 
Esse cara é aquele que já perdeu um monte e aprendeu a ler aos outros, com o respeito que o outro merece. 

Para ser um bom leitor, é preciso ter “sacudido a poeira e dado a volta por cima” tantas vezes e a ponto de, quando ler ao outro, entender que nem tudo é ponte para felicidade, que todos têm seus dias difíceis. Que nem sempre sofrer é autopiedade. E que ouvir, além de tudo, é aprender com o outro, sem precisar aparecer.

É isso, minha gente. Um bom leitor (ou bom ouvinte) é aquele de sente. E sentir, nem todo mundo sabe. 

E você? Sente o quê?