segunda-feira, 12 de junho de 2017

Uma reforma ou um stent

O que sabe um coração além de pulsar?
Sabe muito, sabe tudo
mas por vez ou outra, erra
e nesse erro (quase crime) 
pode deixar de amar.

mas como amor é abrangente
um coração, nem sempre é tão valente
e se recolhe ou se espreme
e precisa de reforma urgente
para fazer mais do que pulsar

é nessa hora que entra um agente
seja uma ponte ou seja um stent
que desobstrui artéria ou vertente
que impediu, impede ou faz amarrar

porque um coração, minha gente,
fica inativo quando não sente
e quando assim, uma reforma se faz presente
para instigá-lo e obrigá-lo (por quê não?)

`a sua doce sina de amar.


domingo, 11 de junho de 2017

Um sincero abraço.


Hoje acordei cedo. Muito cedo, para trabalhar.
E confesso que, mesmo sendo uma pessoa bem animada, um domingo a 8 graus, `as 5 da madrugada em pleno aeroporto já, deixa o ânimo de qualquer um reduzir um pouquinho.
Mas, osso do ofício, e vamos que vamos, porque responsabilidade onde se recebe o sustento, é um dos ganhos da maturidade.
E foi essa tal responsabilidade que fez uma colega minha vir trabalhar. 
Ela estava cansada. Sua feição não negava essa condição. 
Nem precisou narrar a carga de trabalho volumosa dos últimos dias, para demonstrar o quanto seu corpo precisava de apoio extra. Não bastando o cansaço fisico, deixou em sua casa, cônjuge enfermo. E veio. Vestiu a comissária que sente que deve ser, engoliu o lado  pessoal, guardou em uma gavetinha que todos nós sabemos qual é, e foi trabalhar.
Ela narrou brevemente o que aconteceu, e seus ombros tinham o peso de quem carrega uma bigorna de culpa e piedade. Aquela tristeza impotente de quem arca com a tarefa de cumprir seu compromisso e deixa parte da vida íntima para trás.
Diante da cena, eu perguntei: “Posso te dar um abraço?”. Ela consentiu,  se eu  a autorizasse chorar. E eu disse: “Pode tudo”.
E nos abraçamos.
E ela chorou, de soluçar.
Chorou cansaço, chorou impotência, chorou mágoa, chorou tristeza e chorou agradecimento.
Em um só abraço, alguém que eu não conhecia, desmoronou em minha confiança e em um abraço quente, todas os sentimentos que precisava externar.
E esse abraço ficou refletido em mim. 

Eu só iria abraçar. Mas entendi, que em um abraço, mora muito mais enlace do que apenas um corpo quente pode suster.
Um abraço aquece mais que o invólucro. Um abraço cura, ameniza, consola, alivia.
Um abraço diminui cicatriz. Um abraço repara. Um abraço desfaz, refaz, constrói e abranda.
Um abraço cria um laço, que apenas aquele que abraçou de fato, consegue alcançar.
E terminado esse enlace, terminado o choro, esgotado e esvaído o cansaço, ficamos ambas, gratas pelo que aconteceu ali.


E eu, parei para pensar em quantas vezes precisamos embrulhar e colocar uma fita, em caixa colorida, que guarda objeto caro, para representar qualquer coisa que talvez nem sintamos, de fato. Quantos presentes, e quantos laços, e quantos adornos, colocamos em objetos, que deveriam representar tudo que contém em um genuíno abraço. 
Ou quantos corações doloridos deixamos de remediar por qualquer imposição moral, ou por tentativas de usar boas palavras e algum conhecimento, no lugar de apenas envolver-se.
Porque há o fato de que um abraço não pode ser imposto, nem pode ser cobrado, porque, justamente, a espontaneidade é componente qual valida e fortifica esse enlace.
Mas o abraço integra elementos que retificam e remediam, dos quais embrulho outro não pode conter.

E foi assim, que a madrugada de um domingo frio, que poderia ser um triste domingo, para um coração partido e cansado, passou a ser um bom dia para, agora, dois corações aquecidos em um longo e sincero abraço.