sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Para tentar esquecer

Eu perdi a conta
de quantas vezes me esforcei 
para não pensar em você.
E nesta conta
eu não conto quantos 
diferentes sonhos
ou quantos imaginados contos
eu desejei acontecer.

Eu sei somente
que em devaneios soltos
ou em contos 
um tanto psicóticos 
nessa repetição neurótica
de uma memória distante
foram muitos pensamentos desobedientes 
de quem, incessantemente,
aprendeu a perder.

Eu perdi a conta
de quantas estrias formaram
em coração roto
de tanto esforço 
para um esquecimento
numa elasticidade inadequada
que a lembrança e a tentativa
de desmemoria
só fizeram por enfraquecer.

Nesta conta,
não menos lembrança,
não menos memória,
não menos história,
somente mais contos
de quem conta
cada momento
em esforço contínuo

para tentar esquecer.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eu pensei bem

Eu pensei em ser como outras.
Eu pensei seriamente em ser.

Pensei em ser fútil, pensei em ser monótona.
Pensei em ser egocêntrica, pensei em ser ciumenta.
Pensei ser a toa, em gostar de fofoca, de encrenca ou especulação.

Pensei em começar a me importar com o níquel,
com o carro, com o estilo, com a marca.
Pensei em dar importância para a herança, para o luxo, para o pecúlio.
Cogitei em ter menos transparência e ter algum melindre.
Pensei em ser política, em não ser polida e me dar direito ao chilique.
Pensei em ser menos empática. Pensei em ser falsa.

Pensei em parar de pensar e, simplesmente, me deixar levar pela mídia, pelo boato ou pela intriga.

E enquanto pensei tudo isso, morei dentro de alguém que desconheço, que tenho avesso.
Enquanto pensei que poderia ser tudo o que vejo ter inútil preço,
morei em alguém que enojo.

E então, pensei bem, e permaneci nesse alguém que desconhecem, quando não conhecem o que tem valor.