terça-feira, 4 de março de 2014

Retalhos



E quem nunca pegou uma peça de roupa que não era sua e a vestiu, mesmo o modelo sendo antigo, mesmo estando puída?
Quem nunca pegou uma peça que já foi de alguém e pensou em algum momento: se eu consertar, parecerá nova?
Quem nunca pegou um pedaço apenas (que seja) de pano, e viu nele todas as possibilidades, sendo visionário e inovador, e nele colocou todas as esperanças de renovação?
Quem nunca pensou que costurando um botão, remendando um pedaço, adicionando uma tira, acrescentando uma renda, aquela peça se renovaria e, enfim, lhe serviria?

Da mesma forma, ao contrário, quem é que já não foi a peça que substituiu aquela que o outro não tem mais?
Quem nunca entrou no lugar daquilo que não servia e havia sido jogado fora?
Quem ja não foi tingido com outras cores, para ser reaproveitado?
Quem já não foi remendado e recosturado, alinhavado, com moldes antigos, com antigas medidas que não lhe pertenciam?
Quem nunca foi cerzido, emendado ou remodelado?
 


Quem nunca foi feito em pedaços, depois de não servir mais, e virou apenas retalhos?





*poema produzido para a peça "Casa de Retalhos" de Marcio Azevedo

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