sábado, 31 de maio de 2014

Dia do comissário de voo

É até injusto celebrar em uma única data, profissão que demanda atenção contínua e diária.
Ser comissário vai muito além de colocar um uniforme profissional, maquiar-se, fazer mala, viajar.
Aliás, o que pouco nós comissários fazemos, é viajar.

Nos preparamos desde o primeiro curso, para a primeira habilitação governamental, imaginando a hipótese de uma catástrofe.
Desde o primeiro dia de curso, tudo que nos é ensinado é sobre uma possível fatalidade, e como temos que agir sobre ela.
Aprendemos, desde partes do avião a como sobreviver em ambiente inóspito, seja selva, mar ou deserto.
Descobrimos como combater fogo, como recolher água, como fazer abrigo.
Aprendemos socorrismo, procedimentos médicos.
Nos atualizamos, anualmente, sobre tudo que é pertinente à nossa profissão: como poucas profissões exigem, como poucos profissionais são capazes de lidar.
Em nossa revalidações de informação, nos ressaltam as hipóteses possíveis de acidentes, nos informam sobre incidentes, nos mostram tragédias e nos indicam: fiquem atentos!

Nós, comissários, saímos de nossas casas, de nosso conforto, dos braços de quem amamos, para desbravar, à quilômetros de distância da terra, em ambiente confinado, a segurança de pessoas que nunca vimos em nossas vidas.
Ficamos atentos a cada passo, cada possível atitude insegura, cada movimento, barulho, odor, que possa comprometer a segurança de todos aqueles que lá dentro estão.
Ensaiamos, em nossos cursos, repetidas vezes, ações, combates, comandos, para que, se necessário for, possamos fazer com que aquele que está lá, mesmo sem o menor interesse em nossas vidas, seja a pessoa a quem possamos fazer o gesto de salvar.

Abrimos mão, em nosso trabalho, de tantas datas, tantos eventos importantes. Nos fazemos distantes de quem amamos para que pessoas estejam seguras.
Inúmeras vezes, sorrimos a pessoas que desconhecemos, com o coração sangrando, por termos deixado nossas vidas em um ponto que ficou.
Tantas, tantas vezes somos um pouco médicos, um pouco psicólogos, um pouco bombeiros, um pouco escoteiros, um pouco atendentes, um pouco maitres, um pouco ouvidos, um pouco do que o outro precisa, sendo que, nós mesmos, precisávamos daquilo tudo.

Mas é isso que nossa profissão tem de mais bonita: a maturidade em perceber que o mundo é feito por pessoas, que pessoas precisam de pessoas, e servir a alguém, um pouco do que ela precisa, nos faz mais humanos, mais completos. Faz a vida ter todo sentido.

Sobretudo, ser comissário é aprender a diagnosticar, aprender a doar, aprender a servir. Respeitando o outro como outro. Entender que o mundo precisa exatamente disso: carinho, compreensão, desempenho, amor. E disseminar esses itens.
Ser comissário é, acima de qualquer coisa: ser HUMANO.  



2 comentários:

  1. E você mais uma vez consegue fazer minhas lágrimas correrem com suas lindas palavras. Texto maravilhoso!!! Bjokas da Ro.

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  2. Parabens pelo texto. Conseguiu resumir de forma emocionante a carreira de um comissário. Extenda meus abraços a todos os seus amigos de profissão, voces merecem. Eu tento fazer minha parte e ser o menos chato possivel num voo porque sei que lidar com o ser humano é osso. bjs

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