domingo, 13 de abril de 2014

O Abraço


Como qualquer um em sua rotina, passo desapercebida pelas pessoas a caminho do meu trabalho. Imersos em nossos pensamentos, temos tendência de não prestar atenção à nossa volta.
Passando pelo aeroporto, como tantas outras vezes nestes últimos dezessete anos, me deparei com uma cena que já vi várias vezes.
Mas esta, me chamou atenção.
Duas mulheres abraçadas.
De estatura mediana, cabelos castanhos escuros. Ambas. Só consegui, pela idade dos cabelos, imaginar que uma era mais velha que a outra. 
Não dava para ver seus rostos, eles estavam mergulhados no pescoço uma da outra. Elas entrelaçavam os braços, os cabelos... o corpo todo. Pareciam uma só.
Não pude perceber se choravam. Mas eu penso que não. Se havia algum choro, ele estava contido, tamanha emoção exalava naquele momento.
Eu fui chegando perto, passei ao lado e me emocionei. Senti o que acontecia ali.
Continuei caminhando, muitos passos depois, arrisquei olhar para trás. Elas estavam imóveis ainda.
Segui meu caminho imaginando o que será que havia ali dentro... Seria uma despedida? Ou seria um reencontro?
Lembrei do Milton Nascimento, cantado por Maria Rita "a hora do encontro é também despedida..." e me dei conta do quanto participo de momentos especiais das pessoas.
Quantas e quantas vezes devo ter participado do coração palpitante em ansiedade por um reencontro, enquanto transportava uma pessoa para tal. E quantas outras vezes, já não fui quem arrastou para longe alguém que se foi chorando e deixei alguém também com saudade.
Quantas vezes já passei pelo portão de desembarque e visualizei rostos ansiosos, olhos atentos, pescoços procurando alguém que poderia estar logo atrás de mim?
E quanta saudade ajudei a carregar, quanta vontade foi junto também.
Mesmo as minhas... quantas lágrimas de saudade eu já voei pelo mundo afora. E quanta ânsia eu levei em mim esperando um encontro.
Aquele pedaço do mundo, chamado aeroporto, faz exatamente o que o Milton poetizou com uma plataforma de trem:
"... Tem gente que chega pra ficar
tem gente que vai pra nunca mais
tem gente que vem e quer voltar
tem gente que vai e quer ficar
tem gente que veio só olhar
tem gente a sorrir e a chorar..."

"E assim chegar e partir". 
Como todos os outros momentos em nossas vidas, perdemos com o tempo a emoção que sentimos. Ficamos com a sensação ou a lembrança, mas o sentimento mesmo, a alegria e a dor, se vão, com as nossas partidas e com as novas chegadas também.

Adoraria saber o que acontecia naquele abraço. Não sei, ao certo, o que era.
Mas qualquer um podia ver (e sentir) que ali, fosse o que fosse, havia muito amor.

Encontros e Despedidas - Milton Nascimento

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