terça-feira, 8 de abril de 2014

Lilian ao telefone

Ela atende o telefone.
-Alô, quem fala?
-Com quem você quer falar?
-Com a Lilian.
-Oi. É ela.
-Oi Lilian. Aqui é o João.
-João? João de onde?
-João, daqui de Rio Preto.
-(Mudez)
-Oooo Lilian, o João pô.
-Ai, João, desculpe, é sobre assunto comercial?
-Não! Eu te adicionei no facebook esses dias.
-Hummm. Qual seu sobrenome?
-João Martins.
-Hummm, sabe o que que acontece, João? Eu tenho usado meu perfil do facebook para divulgar meu trabalho, eu aceito todos os pedidos de amizade. Você chegou a ver meu trabalho?
-Vi, vi sim. Achei bem legal. Designer, né?
-É. É sim.
-Só prova pra mim que, além de bonita, você continua inteligente. E ainda é criativa.
-Desculpe João, você precisa de algum serviço meu?
-Não! Eu entrei em contato porque te procurava há muito tempo.
-Como assim, João?
- É...  Eu te procurei muito tempo. Você não estava no facebook antes, né?
-De onde a gente se conhece?
-Faz tempo, eu sou primo do Julio.
-(Mudez)
-O Julio Martins. Vocês estudaram juntos, eu acho.
-(Mudez)
-... Acho que foi no colegial.
-Ai, João, desculpe mesmo. Não lembro.
-Nós nos conhecemos num bar.
-(mudez)
-Estava você e a sua amiga, aquela morena alta.
-(Mudez)
-Nos vimos algumas vezes. Eu fui em uma peça de teatro que você apresentou.
-Hummm
-Você lembra?
-Nossa, João, fiz teatro há vinte anos. Você fazia teatro também?
-Não, não. Fui só assistir você.
-Hummm.
-Nós saímos algumas vezes.
-Ai, meu Deus.
-O quê?
-Não vai me dizer que eu dei pra você!?!?
-Naaaaaaooooo.
-Ufa.
-Você não lembra pra quem você deu?
-Isso é outra conversa, João.
-Mas você não lembra?
-Lembro, claro que lembro.
-Então porque o espanto?
-Porque se eu não lembrasse, você seria o primeiro que eu não lembraria.
-Não, você não deu. Mas a gente ficou.
-Meu Deeeeeeeuussss!
-Como assim? Meu Deus? Você não lembra mesmo de mim?
-Desculpe João, já faz tempo né?
-Faz, mas eu nunca esqueci você...
-(mudez)
-Eu mudei de cidade e...
-(mudez)
-... você sabe, a distancia...
-(mudez)
-... bem... A gente não tinha tanto recurso como hoje, né?
-(mudez)
-Eu acabei me afastando... E...
-(mudez)
-... a gente não se viu mais.
-João, me desculpe. Não lembro mesmo.
-Caramba...
-Poxa João, desculpe. Eu era muito nova...
-Era... Mas...
-Eu não lembro muita coisa daquela época.
-Bom... Tudo bem...
-Me desculpe.
-Okay. Tudo bem.
-Desculpe mesmo.
-Mas será que a gente pode se encontrar?
-Acho melhor não, João.
-Bom, tudo bem, então. Mas eu queria tanto...
-Desculpe. Melhor não. Passar bem, João.
E ela desliga.

Fica olhando para o telefone. Sorri.
Pega o fone novamente e tecla oito números.
-Má?
-Oi Li! tudo bem?
-Tudo. Má, você não vai acreditar quem me ligou agora... O João Martins!
-O João? Aquele que você foi enlouquecidamente  apaixonada? Que você chorava horrores?
-Esse.
-Jura? E aí?
-Fingi que não lembrei.



Novo projeto: "De vez em contos"

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