O hálito quente embaçava o vidro
que insistia em manter desenhado
com suposta fumaça mágica que sua boca emitia.
De nariz grudado no vidro,
soprava o ar quente
e com a ponta do dedo indicador
desenhava formatos naquela pequena neblina que ela mesma fabricava.
Mas eram os poucos momentos
quais o marasmo tomava conta
em viagem esperada o ano inteiro.
Em jornada com a boleia cheia,
sua paisagem eram cachoeiras,
estradas repletas de plantio.
Foram inúmeros crepúsculos
e incontáveis amanheceres
ao lado daqueles que amava.
Antes disso, muitos dias que arrastavam lentos
até, finalmente, entrar na boleia.
De seus olhos inocentes,
mais sentia a distância de pai que viaja a trabalho,
do que o presenciava.
Mas como não há mal que seja apenas mal,
o mesmo caminhão que os afastava
unia em cabine aquecida
a família distanciada pela estrada.
Estrada qual aliava
distância
família
memória
e amor.
Em homenagem à minha leitora número 40.o00 Carla Maia
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