sábado, 7 de maio de 2016

Na boleia


O hálito quente embaçava o vidro
que insistia em manter desenhado
com suposta fumaça mágica que sua boca emitia.

De nariz grudado no vidro,
soprava o ar quente 
e com a ponta do dedo indicador
desenhava formatos naquela pequena neblina que ela mesma fabricava.

Mas eram os poucos momentos 
quais o marasmo tomava conta
em viagem esperada o ano inteiro.

Em jornada com a boleia cheia,
sua paisagem eram cachoeiras,
estradas repletas de plantio.

Foram inúmeros crepúsculos 
e incontáveis amanheceres 
ao lado daqueles que amava.

Antes disso, muitos dias que arrastavam lentos
até, finalmente, entrar na boleia.
De seus olhos inocentes, 
mais sentia a distância de pai que viaja a trabalho,
do que o presenciava. 

Mas como não há mal que seja apenas mal,
o mesmo caminhão que os afastava
unia em cabine aquecida
a família distanciada pela estrada.

Estrada qual aliava
distância
família
memória 

e amor.

Em homenagem à minha leitora número 40.o00 Carla Maia

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