domingo, 14 de setembro de 2014

Muito obrigada!

Hoje faz um ano que nasceu o blog e eu não poderia deixar de citar sobre esse passo.
Dentre tantas citações, emoções e contextos, eu hoje, em homenagem ao nascimento dele, conto mais um pouco da minha experiência vivida.

Comemoro este aniversário, em local exato que estava há um ano.
Em Arona, na Itália, cidade de veraneio de tantos italianos e pousada segura para alguns tripulantes após cruzarmos o Atlântico inteiro, saindo de São Paulo.
Como eu lembro que estava aqui? Oras, porque foi aqui, na capela de Santa Ana, qual fiz um pedido imenso e promessa dolorida de ficar seis meses sem comer nada que tivesse açúcar (veja em  Promessa/ Março 2014). Não tenho como esquecer, foi marcante demais.
Quando cheguei aqui, há um ano, estava dolorida, machucada, exaurida, com alma e coração em frangalhos. Achava que nunca sairia daquele momento, qual dor pulsava no meu ser inteiro.
Sentei-me naquela capela, fiz oração forte, fiz devoção em promessa, para pedir ao universo que trouxesse para mim aquilo que havia sido arrancado à força.
A promessa acabou, e depois dela, me dei conta que somente depois de evitar todos os dias o tal açúcar, comecei a viver melhor.
Depois de findado meu desafio próprio, perdi a necessidade de lembrar o tempo todo qual era o propósito daquilo, e passei a respirar mais aliviada, enchendo meu pulmão com mais ar.

Um ano depois, meu pedido não foi atendido, e minha vontade, como mortal, era entrar lá naquela capela e dizer em voz alta: "-Pow, Dona Santa... Qualé a sua?" 
Mas aí, me lembrei de episódio lá do começo da minha carreira como comissária, quando eu queria e fazia questão de voar em uma outra empresa.
Meu foco estava somente nela. Fiz curso preparatório, pedindo em oração para que pudesse trabalhar lá. 
Concluída primeira etapa, curso em escola de aviação e prova de conhecimento técnico no DAC( agência reguladora da aviação civil, na época), por indicação de um amigo próximo, fui chamada para os testes lá na empresa almejada.
Passei em todos os exames da tal com louvor e iniciei treinamento na turma 17, em março de 1996, feliz, alegre e contente.
Minha alegria se esvaiu em parte, quando recebi resultado da tal prova do DAC, que era corrigida `a mão mesmo, e demorava quase um mês para o resultado chegar: tinha sido reprovada em uma matéria, e precisaria refazer aquela mesma dali a cinco meses, período qual ela seria aplicada.
Apesar da decepção, não houve motivo para pânico, porque em conversa com a gerente de treinamento da empresa, assim que eu passasse na tal avaliação, voltaria para a próxima turma que iniciasse.
Prova concluída com sucesso, porém sem previsão para meu retorno: não haviam turmas iniciantes.
Mais alguns meses de espera, quando, finalmente, em março de 1997, iniciaria nova turma.
Porém, no primeiro dia, por algum equívoco, meu nome não constava na turma que se iniciava. Todos os funcionários do treinamento, que conheciam minha saga, me dirigiram para a gerente... "Tem alguma coisa errada, só pode ser" ouvi de mais de uma pessoa.
Sem rodeios, a nova gerente me informou: "- Você não está nesta turma. E não estará nas próximas, porque eu não gosto de você." A gerência havia mudado, e ela não podia ser mais clara em relação ao sentimento comigo.
Fui para casa aos prantos. Dirigia, nem sei como, gritando e chorando. 
Gritava com Deus. Somente com Ele. Urrava: "-Por quê? Por quêêêê????"
Chorei o dia inteiro. A noite inteira. Dei coices nas pessoas que me amam e que tentavam, desesperadamente, me consolar.
Devo ter fechado os olhos em sono de esgotamento lá pelas 6 da manhã do outro dia. As 8:30, minha mãe me acorda: "- Mari, tem uma mulher da TAM ao telefone.
Minha entrevista foi marcada para o dia seguinte e a sucessão de testes também tiveram resultados positivos. Ingressei na turma de treinamento número 9, formada no mês seguinte, apta para voo.

Esse breve relato, para contar o que se passa na minha cabeça no momento em que passei na frente da capela de Santa Ana hoje.
Minha vontade era chorar ou choramingar baixinho, e questionar mais uma vez: "- Por quê eu não mereço o que eu pedi?"

Me acovardei. Ainda não entrei, vou deixar para amanhã.
Mas amanhã eu vou lá. Talvez até chore. Mas será mais um choro de emoção, do que de revolta.
Aquela minha tristeza lá, do ano passado, ainda tem resquício aqui dentro. Mas, em um relance de outra memória, me dei conta de que nem sempre se perde quando a vontade não é feita.
A VASP fechou, pouco (bem pouco) tempo depois, e hoje, sou quem sou, construí o que tenho, personalidade, família, amigos, graças ao trabalho na TAM que me acolheu há 17 anos.
Edifiquei minha carreira em oportunidade dada pós catástrofe pessoal. Sou muito grata àquela gerente que não gostava de mim. 

Assim, hoje, um ano depois, só posso ser muito grata por impulso que me fez iniciar este blog. E claro, tenho que ser grata ao infortúnio que me fez sentar frente ao computador e extrair minhas emoções seja na forma que for.
Sei que minhas verdades podem servir apenas à mim, mas ainda garanto que são verdades cheias de emoção. E que são redigidas com carinho e atenção à quem as lê.
Hoje, meu projeto aumentou. Esse blog renderá frutos. Mas já aprendi a ter a paciência de aguardar o tempo certo. Nada acontece na hora errada. Ainda: a própria história da promessa me ver relembrar... às vezes, quem faz latejar a infelicidade dentro de nós, somos nós mesmos. Existem recursos para diminuir a tristeza, e um deles é não dar audiência a ela. "É melhor ser alegre que ser triste" diria Vinícius de Moraes.
Amanhã, vou lá na capela para agradecer.
Agradecer pelo meu emprego, pela saúde, família.
Agradecer pelos amigos, pelos leitores e pelo carinho que recebo através desse canal.
Agradecer pelos ganhos todos, e pelas perdas, que é certo, só me levaram para os caminhos que eu deveria seguir.





2 comentários:

  1. Chorei, vc sabe. Lembro das suas lágrimas, da nossa conversa-discussão e da frase: "Escreva!"
    Hoje fico feliz, emocionada e agradecida por vc ter encontrado em vc o que eu enxergava naquela época.
    Nós é que agradecemos por vc nos presentear com gotas de sua alma.
    Thank you!! Merci...

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    1. Ahhhh... Mazuquinha... você não imagina o quanto sou grata ao seu "escreva". Fez muito, muito mais do que palavras. Trouxe vida nova, à quem, por um equívoco da vida, se sentiu triste. Obrigada por tudo. Desde sempre! amo-te

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