sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sob páginas amareladas


Quando aquele vento forte bater, daqueles que fazem redemoinhos… deixe-o entrar.
Deixe que ele cumpra sua sina: que leve algumas coisas, e traga outras novas.
Permita que esse vento mexa em seu livro e vire suas páginas desordenadamente. 

Quem sabe, uma rajada de vento abra em página esquecida há muito e traga memórias obrigatoriamente apagadas, que hoje, podem ser doces e tenras. 

Quem sabe ele abra em capítulo de uma grande paixão vivida. E hoje, você a leia sem dor (sejamos sinceros, toda paixão tem alguma dor), e contenha só a magia daquilo que te encantou.

Deixe o vento trazer de volta o brilho. Aquilo que ficou lá atrás. Aquela memória que dá uma vontade danada de sair correndo naquele tempo onde fosse possível resgatar o amor, pegar no colo e ninar para sempre. Voltar em tempo onde dias eram mágicos, cheios de borboletas, e onde ele próprio, o vento, reinava fazendo alvoroço em seu abdômen. Onde aconchego, cafuné e cheiro eram ninho suportável para qualquer loucura, qualquer viagem, qualquer desapego.

Quem sabe ele sopre em força suficiente para varrer de nossos corações alguma poeira, que esconde chave de nossos amores, daqueles guardados em segredo por não terem sido vividos por inteiro.

Deixe o vento trazer em seu sopro de sabedoria (e travessura) as lembranças de um amor. E que não venha em saudade doída, em vontade impraticável, em angústia insolúvel. Que venham com sabores, daqueles picantes, onde a curiosidade dá ainda mais lembrança, mais vontade e mais saudade.

Deixe que ele liberte das páginas amareladas, escritas em letras não tão maduras, todas as músicas, todas as letras e todos as poesias e sonetos que lá contém.

Deixe que ele aja como vento, com poder de virar as páginas da vida, e que ele liberte toda emoção que jazia sob pesadas folhas.

Permita que ele folheie seu livro, te despenteie, te desnorteie... afinal, nada (nem ninguém) precisa ser tão organizado, tão politicamente correto, tão careta assim.

Por fim, se permita em tamanha ventania, que uma brisa leve sussurre em seu ouvido, com toda a sabedoria: “ainda há muita vida e em seu livro, muitas folhas…”

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