sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Trocadilhos incidentais

Tenho uma paixão pelo escritor Mario Prata.
Paixão platônica, claro. Ele nem imagina a existência da mera mortal que eu sou.
Tenho quase todos os livros por ele publicado, e um deles, entitulado “Os cem melhores contos de Mario Prata (que na verdade são 129)”, está entre meus preferidos, para quando preciso dar uma mudada rápida de humor. Adoro a ironia do Prata, adoro as piadinhas nas entrelinhas e em pautas escancaradas.
Enfim, nesse citado livro, o primeiro conto fala sobre algumas palavras que ele mesmo entendeu errado ou que alguém entendeu disforme. Cita as palavras e o que o sujeito criou como seu significado. É super divertido, vale muito a leitura. Risada fácil.

Me inspirando neste conto do Prata, resolvi criar meu próprio, com as palavras que ouvi dos meus filhos pequenos (criança fala cada coisa!) ou que alguém próximo falou errado e eu incorporei pro meu dicionário informal (aqueles momentos que você pode falar errado que o outro entende que é brincadeira).

Maxilar: minha amiga de escola, me contou em segredo que não entendia como tinham conseguido colocar a palavra maxilar dentro de uma música. Eu perguntei: - “Mas que música é?” E ela: “- aquela assim: …agora não tem jeito, cê tá no ‘maxilar’…” ( Como Eu Quero - Kid abelha).

Taporex: essa era a empregada da minha amiga Mariana, que dizia: “Dona Márcia, a comida que sobrou eu coloquei tudo no taporex e deixei na geladeira”. Essa mesma figura colocava a roupa para ‘transcifugar’ e ficava ‘misturada’ naqueles dias desagradáveis de período menstrual. Uso todas, rindo sempre.

Trocando de biquini: essa pérola é minha mesmo, que ficava imaginando uma mulher espremida naquelas cabines provador, suando, nervosa, indecisa, na escuridão da madrugada (isso eu não entendia por quê)… quando ouvia “…na madrugada a vitrola rolando um blues, trocando de biquini sem parar…” (Noite do Prazer - Claudio Zoli)

Trauma: uma colega de trabalho, engraçadíssima, brincava com a palavra traumatizada. De toda situação inesperada, ou que dava errado, ela dizia “aí eu traumalizei”. Incorporei. ‘Traumalizo’ sempre também, aliás, ‘traumalizei’ com a palavra em si, que devo pensar duas vezes antes de pronunciar, se o assunto for sério.


Das crianças de casa:

Acasuva: O Léo, pequenino, pergunta do nada, o que significava acasuva. “Essa palavra não existe filho”, eu expliquei. Ele insistiu que existia sim, o moço canta na rádio. “Canta pra mim?”, eu pedi. E ele, naquela voz doce: “…Acasuva me proteger, enquanto eu andar distraído…” (Epitáfio - Titãs) A explicação só aconteceu depois de um abraço bem longo.

Salada: ainda o Léo, resolveu colocar na música do Rappa, uma salada lá no meio. Não tinha nada a ver, mas ele achou divertido e cantava sozinho sempre: “ …faltou luz mas era dia, o sol invadiu a salada”. Não é tão engraçado, mas pra mim, tem salada até hoje, mesmo na versão com a Maria Rita. ( O Que Sobrou do Céu - O Rappa)

Cogumelo: preparando um strogonoff, a dispensa ficava longe e o auxiliar único era o Leonardo com seus 2 anos e meio. “Sabe o que é cogumelo filho?”, ele fez com a cabeça que sim. “Você pode ir lá na dispensa pegar um pote de cogumelo pra mim?” E ele foi serelepe… demorou um tempão pra voltar e voltou com saquinho de coco ralado. Eu perguntei: “Você sabe como isso se chama?” E ele, com olhos brilhantes: “COCO MELO!!!”

Leite dilensado: esse é da Julia, que não comia fruta de jeito algum. Mas, era só adicionar o “leite dilensado, vó”… aí, ela mandava ver! Ela adora leite dilensado, até hoje. Aliás, ela come leite dilensado com fruta, e não o contrário. Nada boba, essa Julinha.

Tô feita: chatice essa parte de educar filho, que dura 24 horas por 7 dias da semana. Não dá pra dar brecha, não tem intervalo. Durante o almoço, de olhos nos três comendo, uso do talher, do guardanapo. A Mel se levanta, pede licença. “Onde você vai mocinha? Ainda não terminou de comer!” E ela: “Tô feita, mãe”.

Desde então, todos nós ficamos (satis)’feitos’, depois de almoçar. 

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