domingo, 18 de janeiro de 2015

Renascimento

Toda época que permeia meu aniversário, eu fico assim: introspectiva, avaliando como foi este último ano... afinal, a data do meu nascimento marca o início do meu ano novo, da minha nova idade.
Números nunca foram um problema para mim. Tenho orgulho dos meus. Não me incomodo quando alguém pergunta quantos anos tenho, aliás, nem entendo o porquê tanto melindre e desculpas para essa curiosidade.
Enfim, completo 39 anos. E fiz uma revisão do que vivi nestes últimos.

Nos últimos seis anos da minha vida, vivi mais sentimentos do que havia vivido nos 33 anteriores.

Foram tantas sensações contrárias... muita chibatada... muito carinho também... claro que em proporções desiguais...
-Conheci pessoas espetaculares, educadas, polidas. Da mesma forma, conheci gente cheia de razão e ensinamento, mas que na prática, era só teoria.
-Fiz amigos em 5 minutos. Amigos que passaram a ocupar meu coração imediatamente.
Me desfiz de amigos de anos, que estavam sempre nas festas, nas comemorações, mas que não hesitaram na chance que tiveram de me achincalhar publicamente.
-Conheci também que a distância e o tempo não mudam em nada quando se existe amizade verdadeira: o reencontro será sempre um presente.
-Vi meus filhos crescerem e se transformarem em pessoas. Cada um com sua personalidade, cada um com seu jeito. Ganhei meu companheiro fiel assim: sendo parceira do cara que saiu do meu útero.
-Vi a morte chegar. A vi pegar na mão da minha filha. Depois ela sondou minha irmã, depois meu irmão. Não contente, me convidou também. Eu ouvi sua voz bem de perto.
-Vivi um casamento e uma separação cheio de respeito. Mas também vivi a sombra do luto do divórcio, mesmo sendo quem o desejou. Paguei por essa adaptação com o estômago e com meu sono.
-Conheci a espiritualidade de forma ambígua: com muito amor e também com muita manipulação. 
-Tive amigo fiel, que chegou com voadora no meu peito, mostrando a realidade do caminho errado que escolhia... tive que engolir a seco meu orgulho, e aprendi a respeitar ainda mais a coragem de quem me ama.
-Trabalhei de forma cada vez mais dedicada. Vi colegas pelo mesmo caminho, enquanto outros seguiram o meio contrário.
-Conheci o amor que os grandes romancistas citam. Descobri que ele existe e é lindo demais. Mas acontece com ele exatamente o que os grandes autores contam. 
-Trabalhei como nunca imaginei que conseguiria trabalhar: em turno dobrado, triplicado. Uma vez para uma formação rápida, caso minha filha precisasse de mim por perto e não nos céus. A outra, para segurar as pontas nas contas de uma casa com quatro pessoas sob minha responsabilidade. Descobri que, neste caso, é melhor cortar gastos do que comprar remédio. Trabalhar demais adoece.
-Me tornei quem planeja, coordena e executa todas as operações do lar. Acho esse trabalho o mais difícil, mais cansativo, mais desgastante, porém, o que se vê mais resultado: na educação do filhos e harmonia dentro de casa.
-Me apaixonei. E caí de cabeça na paixão. Mas não fui correspondida na intensidade que tenho. Aí, saí fora com o rabinho no meio das pernas, coração dolorido, mas certa de que não tenho que convencer a ninguém quão boa companhia sou, já que não encontraram isso em mim.
Da mesma forma, não me apaixonei por quem se apaixonou por mim. E questionei o Universo trocentas vezes: por quê tem que ser assim?
-Conheci gente que administra dinheiro da melhor forma possível, mas que ficam atônicas quando o assunto é não palpável.
-Reencontrei gente importante. Reencontrei meu passado. Reencontrei grande amor. E descobri que tudo tem uma razão por ter ficado lá trás. Percebi que o passado contém fadas, mas também fantasmas que jazem adormecidos... não é tão bom mexer neles.
-Me diverti muito. Chorei de rir, literalmente. Aprendi a ser mais relaxada em alguns quesitos. Descobri fórmulas que me levantam quando não estou bem.
-Aprendi a ser tatu bola. Mordo o rabo e me enrolo em mim, quando tem alguma desordem interna. E fico quietinha olhando pra dentro, até a hora que encontro paz no meu travesseiro novamente. Não existe culpa no outro, sou eu quem tem que aprender.
-Fui ouvido e ombros para quem me procurou. Assim como, usei muito ombro emprestado por aí. Às vezes, de gente que nem tinha tanta intimidade, mas que estava cheia de carinho para dar... aprendi com isso também.
-Vi o tempo passar lento, em dias tristes. Como já o vi sair correndo quando tudo está bem.
-Já tive que sacudir a poeira da alma, já tive que engolir um vazio oco.
-Tive amigos que viveram uma vida comigo e não me ajudaram quando eu precisei, nem se importaram. Como tive mão, ombro e acolhimento em pessoas lindas de olhos transparentes e coração puro, que havia conhecido há pouco.
-Me cobraram presença sem respeitar minha individualidade, meu trabalho e minha família. Tentei até onde eu pude provar que amor não tem distância. Pra alguns, eu não convenci: desistiram de mim. E eu, desisti também, mas não guardei rancor.
-Amei, intensamente, a tudo que pude amar.
Me arrependi amargamente por entregar tanto a quem nem sabe o que fazer com este amor. Mas continuei a o distribuir. Não conheço outra fórmula. 
-Fui ao céu, em forma mais pura. Como conheci o lugar mais negro que existe em nós.
Senti na pele, e em outras tantas partes, o que é ser abandonado ou ignorado. Entendi, com toda força da alma, o que é ser traído (mesmo da forma que pareça mais banal).
-Acreditei em tudo que ouvi, em tudo que me disseram. Tenho essa mania estúpida de achar que as pessoas não mentem. Doeu quando eu descobri, em todas. Mas continuei a acreditar nas pessoas.
-Tive quem me lotou de amor e de carinho, mesmo estando longe. Também tive quem me enchesse de vazio estando ao lado.
-Fui perdoada por quem errei. Perdoei também algumas feridas latentes.
-Convivi com pessoas que fizeram a voz do 'anjo'... aquelas que te indicam a direção certa, o sentimento correto. Como presenciei quem me instigasse a usar o lado negro que existe dentro de cada um de nós (desses, eu me afastei).
-Me deparei com gente corajosa, de fala segura, de ímpeto forte. E vi essa mesma gente se escondendo ao menor sinal de desconforto. Como conheci outras, sensatas, sensíveis, e que enfrentam a vida com o peito aberto, cheias de coragem.

Deixei a vida acontecer, seguindo meu coração, que nem sempre é tão esperto, mas sempre é muito sincero, e cheguei onde estou.

Mesmo com cicatrizes, ou alma rota, tudo ainda funciona dentro de mim. E eu conheci aquela quem eu teria que admirar, respeitar integralmente e amar, mesmo com defeitos, porque com ela, eu me deito para dormir e acordo, todos os dias, sendo a única responsável por sua felicidade.
Morri e renasci inúmeras vezes e entendi que a reforma própria é muito mais complexa do que a construção.
A reforma íntima demanda coragem, persistência, resiliência... Ela não é nada fácil de fazer acontecer.
Ainda faltando muito, penso que mereço parabéns. Porque eu renasci muito mais vezes do que o número 39 que entitulará a  minha idade. 









5 comentários:

  1. Parabéns 39 vezes x 1000... te amo e te admiro... <3

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    1. Te amo muito, minha amiga, confidente e musa inspiradora!!!! <3

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  2. Parabéns 39 vezes x 1000... te amo e te admiro... <3

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  3. Lindo seu texto! Escreves bem, de forma articulada, mas acima de tudo direta, honesta e transparente, qualidades que muito admiro em qualquer vivente que tenha a coragem de sê-lo.
    Parabéns pelos seus 39 anos, eles certamente fizeram de você uma pessoa interessante e questionadora, atributos fundamentais de toda e qualquer pessoa com senso de urgência, auto-crítica e clareza.
    Fique com Deus e cuide-se!

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    1. Obrigada pela crítica e por conseguir ler nesse texto muito mais do que apenas palavras. Reconhecimento é predicado daquele que já viveu as mesmas sensacoes. Obrigada pelos votos! Fique com Deus.

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