segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Entre a guerra e a empresa

Me espanto com os relacionamentos atuais. Melhor dizendo, me espanto, com a fórmula que as pessoas usam para se relacionarem.
Dos mais variados conselhos que escuto, o mais frequente é “se envolva menos”. Como é que é?
Desculpe aí, minha gente, mas tem como se envolver moderadamente em sentimento? Existe controle disso? Sério?

Eu consigo entender que possa não haver interesse mútuo por não acontecer o “click”. Sabe a que me refiro? Aquela sensação gostosa de quando alguém se torna interessante mesmo você sabendo que ela não é perfeita.

Mas, ao contrário disso, pelo que entendi até agora, estou errada no meu ponto de vista.
Parece que as pessoas estão preparadas todo o tempo para uma guerra. 
Armadas ou escudadas. Estão prontas para atirar, e protegidas o tempo inteiro. Na trincheira, à espreita de qualquer ameaça ou ataque. 
Estão cheias de regras e armadilhas. Estão mesmo esperando um inimigo.


Nessa regra nova, dizem, não se pode mostrar por inteiro. 
Nem ansiedade. Nem disponibilidade.  
É preciso esperar 3 dias para mandar uma mensagem.
Como assim? Você precisa esperar 72 horas para dizer para alguém que gostou da companhia? Como assim? Desde quando foi estipulado que é preciso esperar um ‘tempo’ para se envolver, como se tivesse algum período cronometrado que diagnosticaria quem pode ser bacana para você?
Me disseram, é preciso fazer um certo jogo. Ficar ‘cool’. Ter mistério.

Então, pelo que entendi, não se pode ser verdadeiro. É isso? Precisa ter algo mascarado, camuflado? Precisa de ensaio? Frase pronta? 
Precisa de controle, alguma falsidade?
Pra mim, isso se chama melindre.
O melindre é feio, é ardiloso.
Se você não demonstra o quanto se interessa pelo outro, como o outro há de saber?  
E se você não demonstrar, e como você, o outro também tiver a fórmula própria, em precisar que seja demonstrado rápido, isso quer dizer que vocês são condenados a não se conhecerem direito por causa de regras pré-existentes?
Essas fórmulas novas, que foram inventadas, só servem para afastar as pessoas, que cada vez mais preferem contato virtual, ao real.

E num mundo protegido por uma tela, tantas coisas acontecem que não são reais… 
Ter alguns interessados em site de relacionamento, está longe de significar ser popular. 
Ser popular está longe de se tornar pessoa interessante. 
Ser interessante está longe de ser alguém acessível. 
Ser acessível está longe de ser apenas quem está online, assim como, mandar apenas uma mensagem está longe de demonstrar interesse real.

Telefonemas, visitas surpresas e flores, são raridade nesse tempo de guerra.
Pode ser, que mesmo com tudo isso, alguma parte não queira acontecer. Pode ser que não bata o encanto. O tal “click”. 
Todo relacionamento tem um quê de magia, não é verdade? E pode ser sim, que a magia não aconteça para alguém. Mas isso só pode ser sabido depois de algum investimento. E nessa hora, que se mostra inteiro, é quando se percebe o que quer, se te cabe, se te serve. Não tem sensação pior que descobrir uma pessoa meses depois de conhecê-la. A impressão, quando se sabe a verdade tardia, é de que todo o restante era mentira.

Enquanto isso, se fica nesse jogo de sombras, onde é preciso esperar, controlar, manipular, criar expectativa. Na boa, pra mim isso tudo é balela.
Não tem atitude mais bonita que ser verdadeiro, espontâneo. Deixar-se conhecer e mostrar quem somos também.

São poucas pessoas que procuram a perfeição, graças a Deus, uma grande maioria ainda procura apenas aquela tal conexão que acontece por química…o estalo, o badalar de sinos. Tem meia dúzia por aí que quer uma fórmula exata, mas pra esses doidos também tem parceria. Tem parceria pra todo mundo.

Só não encontra um companheiro aquele que pré determina tanta fórmula, monta tanta estratégia, que acaba vivendo em seu arsenal, cheio de planilhas e rotas de fugas. Esse, meus amigos, não está afim de se relacionar, não. Esse, está afim mesmo, é de ter uma empresa. O que nesse caso, já seria um sócio.





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