sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Um menino na praia

Uma criança na praia.
Em muitas situações, seria apenas mais uma foto, de mais uma criança, em um dia de praia.
Mas essa não. Essa foto não tem uma criança brincando. Não tem bola, nem família ou alegria.
Nessa foto, apesar da mudez de toda fotografia, e mesmo sem sangue algum, tem o horror e o desespero de um mundo que imigra exasperado à procura de esperança de vida.

E essa imagem se espalha pelo mundo, agora com ilustradores  com criatividade em alta, sugerindo outras cenas, para que em nosso consciente, quem sabe, fique alguma coisa positiva, no meio dessa desgraça toda. 

É uma imagem triste, em meio a tantas outras imagens que temos do pandemônio do mundo. Mas sempre há alguém para registrar a imagem. 
Imagino que, naquela situação, não teria como o fotógrafo auxiliar com algum tipo de resgate, mas já presenciei cena qual as pessoas fotografam, filmam ou prostram-se pasmas, enquanto quem precisa de ajuda, permanece pedindo socorro, sem ser atendido.

A imagem do menino morto com o rosto na areia é angustiante, mas, mais lamentável é a cena de quem vê paralisado momentos como esse, todos os dias, e nada faz para mudá-lo.
E essa mudança, não precisa acontecer de forma macro, porque o ser humano tem mania de abster-se de culpa, imaginando nada fazer para mudar um todo. Não podemos mudar de forma generalizada mesmo, porque a mudança é individual.

A forma de sair do caos que nos encontramos é estudando muito, lendo muito e sendo um pouco menos egoístas. 
Aperfeiçoando nossos conhecimentos e sendo mais gentis com o mundo em geral. 
A começar pela nossa casa: em nossa família, ouvindo aos nossos filhos, pais ou cônjuge… dando conselho, sendo ouvidos e olhando nos olhos. Saindo mais desse mundo virtual e tendo mais contato humano.
Sendo mais gentis com aqueles que participam de nossas vidas: com o funcionário, com o prestador de serviços, com quem passa na rua.
Com menos ferocidade no trânsito, com mais afabilidade com colegas de trabalho, com mais cortesia no restaurante, mais civilidade nos serviços comprados.

Queremos menos guerra para um mundo inteiro, mas não paramos na faixa para o pedestre atravessar.
Queremos menos imagens de violência, mas damos audiência a programas que incitam o que é negativo.
Queremos um futuro melhor, mas presenteamos nossos filhos para compensar nossa ausência.
Queremos ser bem tratados, mas não temos a delicadeza de dar bom dia.

A criança na praia da Turquia é um reflexo do mundo que vivemos:
estamos estupefatos apontando o erro dos outros, impressionados com a violência, perplexos com as mortes.

E atônitos, assistindo a tudo, mas achando que somos perfeitos.

Um comentário:

  1. Apesar de chocante o seu relato, da crueza da foto emblemática, você captou com rara felicidade esse momento de estupefação.
    Muito bom...

    ResponderExcluir