sábado, 4 de novembro de 2017

Seu Pote de Mel

Saímos do mercado, e quando entramos no carro (estávamos só eu e ela), ela começou a chorar.
Chorou copiosamente, até eu conseguir abordar o assunto.
Ela tinha uns dois aninhos, mas já se comunicava perfeitamente (aliás, como sempre, deixa bem claro o que quer e o que não entende).
No meio daquele choro todo e eu perguntando “O que foi, o que foi?” revirando o seu corpo em busca de algum sinal que mostrasse dor. Ela continuou chorando, até que pegou fôlego e disse: “- Hoje ninguém disse que eu sou bonita” e continuou a chorar.

Apesar de ter alguma graça esse situação, para uma mãe, não havia graça alguma, visto que eu entendia que para ela, já era importante ouvir dos outros essa opinião. 
Também deixava claro que para o ego daquele bebê já percebia que as pessoas expressavam suas opiniões e que sua vaidade era massageada. 
Ainda, mostrava o que mais me preocupava realmente: que a qualidade externa poderia se mostrar mais importante que a interna. 
A partir deste ocorrido, passei a apontar aquilo tudo que realmente importa, as qualidades e o comportamento, e preocupava-me em mostrar à ela que uma pessoa se faz bonita, não é pela casca que têm, mas pelos itens que a compõe.

Ela entendeu rápido. E com o passar do tempo aprimorou.

Hoje deixa de ser, oficialmente, uma criança. Legalmente, a partir dos doze anos, ela não faz mais parte do mundo infantil e entra na adolescência (Lei Federal 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente,  Art. 2º )
Mas se torna uma pessoa cada dia mais linda. E não é pelos belos olhos azuis, seus lindos cabelos loiros, pelas covinhas encantadoras quando sorri o seu mais sincero sorriso. 
É porque a Mel nasceu com a qualidade de ser sagaz, de aprender rápido. Aprendeu que alguns comportamentos doem, e que não os deve reproduzir, muito menos aceitá-los. Ela percebe rápido aquelas aproximações vagas, evasivas. 
Ainda, ela nasceu assim… sentindo muito, o que é uma das mais qualidades que tem. Nasceu sentindo, faz questão de e interroga a tudo aquilo ou aquele que incomoda sua paz e alegria internas. 
Com a Mel ainda tem algum chororô, fazer o quê? Quem sente é assim mesmo, precisa esvair, precisa esvaziar. 
E no seu pote (de Mel) hoje, não tem espaço para tristeza, nem para provocação. Seu pote é recheado de alegria, de música, de piada, de companheirismo, de ironia, de diversão. 
Seu pote é lindo por fora  (você mesma sabe disso Mel), o rótulo mostra um produto que dá vontade de ter.
Mas quem consegue chegar mais perto e abri-lo, pode se deliciar do mais puro Mel, daquele que enche a boca de sabores incríveis, que nos faz sorrir de alegria verdadeira por tanto sentimento e saber.

Hoje, comemora-se a chegada do mais puro Mel. 
A embalagem é surpreendente, 

mas o sabor é muito mais.

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