domingo, 19 de fevereiro de 2017

Nesta sua viagem

Você disse que sente muito, 
mas a verdade toda dessa história 
é que você mal sabe o que é sentir.
Você compara toda história com uma viagem, 
e sendo uma viagem, 
todo mundo tem seu bagagem.
E dentro de tanta falta, 
o que não falta é seu preenchimento vazio.
Espaço vago de quem justifica suas ausências, 
com bagagem repleta de lacunas.
E qualquer provimento em viagem 
tão cheia de hiatos 
pode gerar incomodo fardo.
Peso de quem não conhece o que é bagagem.
Só sabe o que é uma viagem sem rumo - de fato.
Trajeto com paradas aleatórias e desordenadas.
Percurso estabelecido por destino fingido conhecido 
ou por escancarada imperícia de emancipação exagerada.
Ressentimentos de quem
- em percurso habitual -  
transporta consigo passageiros eventuais,
como eu mesma fui.
Essa não foi minha primeira errada viagem, 
mas pensei por algum instante, 
que tamanho discurso sobre intensidade 
tivesse aquela premissa dos verdadeiros viajantes. 
De quem desbrava, que é audaz 
e cheio de coragem.
Mas, ao contrário, 
é tanto vazio em uma só bagagem,
tanta evasão em tão curta parada 
tanta falta em demasia,
tanto desapego em algum afeto,
tão pouco afeto em qualquer entusiasmo,
que qualquer viagem 
em qualquer velocidade
se torna apenas mais uma paragem
sem bagagem ou envolvimento,
e nessa história o que tem de sentimento é
- justamente - a falta de algum.




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