terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Hoje eu chorei você



Hoje eu falei de você e me emocionei.
Contei a nossa história 
e tudo o que  aconteceu.
Mas a emoção se deu por conta daquilo que eu não sei, 
em verdade eu chorei, 
mas chorei pouco, chorei contido.
Uma lágrima caiu 
e foi embora junto com tudo aquilo 
que eu não sei como aconteceu.
Chorei e sequei essa(s) lágrima(s) teimosa(s), 
afinal, apareceu mais do que uma,
em ambos os olhos, 
e eu as secava antes delas escorrerem 
porque eu não queria borrar a minha maquiagem 
ou borrar a minha vaidade que
 - ao final das contas - 
foi o que me separou de você.
Em tanto tempo já passado, você doeu. 
Doeu na narração bonita de uma história 
picada entre algumas idas e vindas, 
tão cheia de amor e em mesmo tanto desencontro, 
que eu não sei o que dói mais: 
Não sei se dói não ter você 
ou se dói saber que sou culpada em não te ter.
Eu sei que essa teimosia, 
- seja da lágrima ou da decisão - 
mexeu comigo em emoção esvaída 
em conversa informal 
de quem desesperadamente não mente mais para si 
tentando omitir ou esquecer.
Também sei que não teve mentira, 
e que nossa história conteve muito sentimento. 
Mas também não teve o atrevimento
- que teria sido imprescindível -
para fazer essa história permanecer.
Tem ainda muita vaidade, 
alguma imaturidade 
e é cheia de intolerância por parte de quem está no comando,
mas esse papel é alternado, 
ora por mim, ora por você, 
e ambos sabemos o que queremos,
só não queremos mesmo é perder: 
seja a liderança, seja a esperança ou intemperança.
Hoje eu chorei você, hoje eu enxuguei você. 
Hoje eu chorei por mim, hoje eu chorei por você, 
e fiquei assim, exatamente onde estava, 
sem saber o que fazer. 
O que sei é que fiquei sozinha, 
com uma decisão talvez equivocada, 
com a  maquiagem um pouco borrada, 
a alma um tanto amarrotada 
e uma vontade gigante dessa história estar inteira errada 

e voltar a acontecer.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Nesta sua viagem

Você disse que sente muito, 
mas a verdade toda dessa história 
é que você mal sabe o que é sentir.
Você compara toda história com uma viagem, 
e sendo uma viagem, 
todo mundo tem seu bagagem.
E dentro de tanta falta, 
o que não falta é seu preenchimento vazio.
Espaço vago de quem justifica suas ausências, 
com bagagem repleta de lacunas.
E qualquer provimento em viagem 
tão cheia de hiatos 
pode gerar incomodo fardo.
Peso de quem não conhece o que é bagagem.
Só sabe o que é uma viagem sem rumo - de fato.
Trajeto com paradas aleatórias e desordenadas.
Percurso estabelecido por destino fingido conhecido 
ou por escancarada imperícia de emancipação exagerada.
Ressentimentos de quem
- em percurso habitual -  
transporta consigo passageiros eventuais,
como eu mesma fui.
Essa não foi minha primeira errada viagem, 
mas pensei por algum instante, 
que tamanho discurso sobre intensidade 
tivesse aquela premissa dos verdadeiros viajantes. 
De quem desbrava, que é audaz 
e cheio de coragem.
Mas, ao contrário, 
é tanto vazio em uma só bagagem,
tanta evasão em tão curta parada 
tanta falta em demasia,
tanto desapego em algum afeto,
tão pouco afeto em qualquer entusiasmo,
que qualquer viagem 
em qualquer velocidade
se torna apenas mais uma paragem
sem bagagem ou envolvimento,
e nessa história o que tem de sentimento é
- justamente - a falta de algum.




terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Arranjos


Entre arranjos
ao pé do ouvido
as confidências 
instigam em
palavras não discretas

verbalizam segredos
em escancarado sigilo
audácia provocativa 
da intimidade nada antiga

trato proibido
com promessa ou pacto
sem vínculo afetivo
de excessiva lascívia 
em escasso abrigo

refúgio raso
discretamente protegido
por quem busca guarida
em uma manhã
por um dia apenas
ou por perdido juízo.