quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Oitocentos poentes

A afasia 
em oitocentos poentes
fizeram de dor latente
um cansaço gentil.

Passados 
não sutilmente
em solidão 
preenchida somente
por ilusão pueril.

De quem 
não se fez inocente
pecado outrora nascente
em paixão infantil.

 - Por ora - dor suficiente
cujo fim 
- recorrente -

se faz conhecido 
alcantil.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Naturalmente deliciosa

Ela se olhou no espelho do quebra sol do carro, passando a mão na sobrancelha, disse:
- "Meus pêlos tem várias cores, vão de castanho escuro até quase branco… eu sou naturalmente degradê".
E eu, quase bati o carro, de tanto rir com tamanha sagacidade da menina…
Menina que tem muito de muita coisa, em pouca idade.
Mas como tudo depende de uma referência, de pouco, neste caso, ela  tem nada.
Porque nesses onze anos completados hoje, o que se tem ali naquele corpinho, apesar da altura em alongamento, é uma quantidade absurda de predicados.

A Mel nasceu assim: foi sem planejamento. Logo, ela chegou chegando. Chegou porque quis. E desde esse dia, tem feito o mundo mais colorido, mais cheio de graça e naturalmente agradável.
Ela carrega um espirito antigo, capaz de fazer perguntas audaciosas, para conclusões cultas.
Para a Mel, a tristeza tem tempo certo: o tempo de chorar a dor, fazer um biquinho e em seguida esquecer. Logo ela já está rindo, cantarolando. Esperteza de quem já aprendeu que a tristeza é uma sujeira: e ela levanta, sacode essa poeira e dá volta por cima. Naturalmente sábia.
E por falar em cantarolar, essa é uma das fórmulas que ela desenvolveu para espantar o que seja ruim: e seu repertório vai de Toquinho à Twenty One Pilots, na mesma desenvoltura que o restante de seus decisões. Naturalmente eclética.
Fica ao meu redor todo o tempo, insistindo: “posso te ajudar?”, como se sua própria existência  não fosse o gás que me ajuda a enfrentar todas as adversidades. Ela é, naturalmente, um combustível.
Tem vocabulário rebuscado, sinônimo de sua natureza perspicaz. Naturalmente astuciosa.
A Mel tem muito de açucarada e alguma coisa azedinha.  Temperos que ajudam apenas a incrementar o sabor de quem nasceu, naturalmente, doce.

E neste dia do seu aniversário, minha filha, só devo desejar que você continue a ser naturalmente você. Este misto de sabedoria, simplicidade, alegria e audácia.
Desejo que continue a levar a vida de forma suave, sem o muito peso que os anos insistem em nos convencer que existe. Que você continue naturalmente leve.
Desejo que você seja naturalmente livre e que ninguém te convença a guardar seus tão lindos sentimentos.
Desejo que você tenha muitos motivos para sorrir esse sorriso que, naturalmente, contagia quem está a seu redor.
Desejo que nenhuma dificuldade te prove que desistir seja melhor que tentar até o fim, que continue naturalmente ousada.
Que seus olhos continuem brilhando, essa satisfação de quem veio para provar que a vida é maravilhosa naturalmente. 

E que você seja sempre essa pessoa naturalmente deliciosa de viver.