sexta-feira, 17 de julho de 2015

Eu queria poder te dizer


Eu queria poder te dizer tantas coisas e dentro delas só te dizer que tudo dará certo.
Queria poder te abraçar e dizer que o mundo é lindo e cheio de boas pessoas e que em seu caminho só haverá flores.

A verdade, você já sabe, não é bem assim. O mundo está meio maluco, as pessoas não estão fáceis e nossas conquistas não são descomplicadas.
O tempo começa ganhar velocidade e, muitas vezes, somos impotentes perto dele.
Existe provação o tempo todo e todo êxito depende apenas de você.

Se eu tenho boas notícias? Claro que sim! Você já é um vencedor.

Você é homem íntegro, em seus poucos anos já é comprovado isso. E integridade, meu amor, é a chave para a sua grande conquista: espiritual e física. É uma chave que poucos possuem.
Presenciei  você passar por tantos momentos onde qualquer pessoa justificaria como traumático. Ao invés de reclamar, questionar... você o observa, às vezes, faz alguma pergunta pertinente para entender o fato, e conclui que ficar na sua, em paz, é o melhor remédio.
Testemunho um espírito, muito evoluído, crescer ainda mais. Questionando corretamente. Indagando questões que nem mesmo para a sua idade seriam pertinentes. 
Vi uma criança sábia, com destaque no estudo, com facilidade de aprendizado, ganhar o mundo e fazer muitos amigos. E ganhei um companheiro na mesma velocidade.
Vejo este moço virando homem, falando de medos, de conquistas. Sendo gentil com tudo e com todos.
Assisto às suas decisões, com a audácia de quem tem alguma coisa a mais para oferecer. Quando na verdade, estou só aprendendo.
Observo um homem sábio, que me interroga, das questões mais íntimas às questões mais complexas, como quem quer aprender sempre, mas na verdade, tem muito mais a ensinar do que a ouvir.
Recebo um companheiro que sabe falar de música clássica à metal. Sabe de autores literários  renomados à jogadores de basquete, futebol. Fala de biologia, química, sexo à mitologia grega. Um companheiro para piadas, algumas exclusivas nossas, irônico… (e cá entre nós, poucos somos os que entendem a diferença entre ironia e deboche… é preciso muita inteligência para ser irônico).
Um filho tão atencioso, que despende parte do seu tempo para ouvir à mim ou às irmãs. Que colabora com o bom andamento da rotina do lar. 
Um homem que se preocupa em perguntar: "você está feliz?" quantas vezes forem necessárias, até ele acreditar, de fato, que o outro realmente está. 
Um homem que percebe sensivelmente comportamentos e demonstrações.
Um homem que se emociona com a demonstração de carinho alheia e percebe, sem melindres, o quanto é difícil encontrar gentilezas e afeto por aí, e ainda, retribui a todos.
Um homem que compreende o valor da amizade e está rodeado de amigos verdadeiros.
Um homem que sabe o que é ser verdadeiro e quanta energia se despende para tal.
Um homem educado, com português correto, com cortesias incomuns à idade (e por quê não dizer, ao mundo em geral?), que oferece a proteção na calçada, a cadeira para sentar…

Eu vejo, meu amor, um mundo nada fácil ao nosso redor, você já sabe disso, mas vejo um outro mundo dentro de você. E dentre as poucas certezas da vida, eu apenas posso garantir que o mundo será sempre o que você estiver.
Posso garantir que apesar da velocidade do tempo, ele sempre mostrará a verdade e o porquê, e ao final, você nunca se sentirá tolo, mas sim, liberto.
Você sempre terá escolhas, meu amor. Você poderá ser bom ou ser mau. A vida nos induz a isso. Escolha sempre o que te fizer dormir em paz, o que fizer seu sono tranquilo e aquilo que tranquiliza seu coração: a sua idoneidade não permitirá errar.

Você aniversaria, mas há muitos anos, quem ganha presente somos nós, aqueles que têm o privilégio de compartilhar o planeta com você.
Descobri, meu amor, com você, há 17 anos, que o mundo é muito melhor porque você está aqui.

Eu queria te dizer muitas coisas, meu filho. Mas o que eu posso mesmo é somente dividir o meu amor (ou completá-lo) com você.





quinta-feira, 16 de julho de 2015

Cofre destrancado



Sentou-se frente ao computador.
Respirou fundo à procura de uma chave que abriria seu cofre fechado em modo auto proteção.
Os vidros que deveriam auxiliar na leitura, embaçam com choro quente de quem revive muitos anos em poucos segundos.
As suas borboletas flanam desencontradas, batendo umas contra as outras, enquanto estômago se contrai em busca de qualquer esperança.
Só há lembrança e desejo. E vontade de transcrever muitos sentimentos.

“Voltou ao momento que o ônibus para em terminal distante e o coração aumentava seu compasso. Noite mal dormida, drogada por anti-histamínico, para que 12 horas fossem distancia mínima entre a aquisição inapropriada, violação de conduta e desejo de reencontro.
Caminhou pela Avenida Santa Rita, com taquicardia desconhecida, subiu escadas em desalinho, com troca de roupa para apenas um dia.
Adentra apartamento com odor conhecido: misto de produto de limpeza que camufla álcool e tabaco da noite anterior.
Tenta esconder em sorriso a ansiedade e a vontade de uma recepção calorosa.
Encontra apenas dissabor, em leito conhecido, provocado imprudentemente, por vaidade e falta de coragem…”

Volta para tela branca, com letras em fonte helvética, e desespera-se em ver que nada consegue além de saudade e tristeza. 
Sente-se perdida e impotente. Sensação exata desde fatídico dia da Republica Gineceu.
A ânsia era outra. 
Intenção era apenas fazer sorrir. E descrever que distância e tempo não impedem ao amor. E que existe muito mais amor além de intervalo e espaço.
O propósito era relatar afeto castiço. 


E noticiar que, deu-se conta em súbito: as borboletas flanam felizes, coloridas, em cofre destrancado há tempos.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

No deserto

O que remanesce é um deserto  
onde jaze abundante areia 
infinita, seca, estia.
Onde pairam poucos rapinos, 
em busca de algum alívio para seus voos solitários.
Imensidão se perde em vista turva,
rompante da única água 
a molhar chão estéril.
Não há mais flores,
somente memória
que assovia em vento forte e
corrompe descanso vital.
Sao fardos de feno esvoaçantes
a rolar aridez tirana
qual outrora fora oásis 
de um júbilo insensato.