sexta-feira, 29 de maio de 2015

Aquele olhar


Terá um dia que você irá encontrar.

Haverá um dia, que os planetas certos farão a junção exata e você irá encontrar.
Irá encontrar aquele que fará seu coração entender qual o motivo para tanto esforço e a partir daí não fará trabalho árduo para pulsar. Ao contrário, irá bater com mais alegria, como uma criança cheia de energia quando brinca e entende o porquê de viver.
A partir deste dia, a vida terá outra razão e você compreende literalmente  o significado da palavra sentido.
Deste dia em diante, suas buscas cessam, e sua caça adormece. E tudo que você desejará é dormir em cama quente, aquecida pelo amor que você sente, e acordará com alegria de quem, de fato, se renova com o sono e deseja mais motivos para despertar.

Terá um dia, em que você descobrirá em um outro olhar a sua própria alma refletida, ou a parte dela que completa a sua. E nesse reflexo você lê o bem querer, o desejo de quem tem reciprocidade. Esses olhos terão imagens daquilo que não se descreve. Eles lerão os defeitos, que serão desimportantes, perto das qualidades que conseguem enxergar (e aceitar).

Haverá um dia qual a distância, o tempo, ou vidros com grau serão castigos de quem perdeu esse olhar.
Mas com alguma sorte, esse olhar, em algum momento, estará lá, a te fitar, abertos, acesos e acessíveis, para que sua alma seja tomada de alegria.

Terá um dia, que essa junção de olhares será tudo o que você almeja, e nada mais importa, porque os outros olhos serão somente lentes. 
E apenas aqueles olhos você desejará encontrar.




quinta-feira, 28 de maio de 2015

Pérolas (continuação)


Mais um texto sobre as minhas pérolas caseiras.
Esse meu povo me mata de orgulho com a velocidade de raciocínio, sagacidade e ironia. Tenho para mim que ser irônico requer muita inteligência… e eles são em vários momentos… e nós rimos todos, risada larga e solta. Coisa de quem é feliz como é:

...

Olhando as fotos impressas, alguns álbuns e muitas fotos soltas.
A Mel me acompanha na bagunça.
Eu: Nossa Mel, agora que me dei conta que suas fotos todas não estão em álbum… estão todas soltas!
Mel: Elas são como eu: livre, leve e solta. Não… o leve pode tirar.


Estudando para a prova de matemática:
A área é igual a pi vezes a reta ao quadrado.
Eu: Ju, agora já entendemos o que é o diâmetro, já sabemos como calcular a reta. 
(fizemos contas e mais contas)
Eu: Agora, Ju, já entendemos como calcular a área. Tem mais alguma coisa que você precisa entender?
Julia: Preciso entender pra quê eu preciso saber isso. (!!!)


Um ex namorado ficou mandando mensagem. Queria me encontrar.
Eu (pro meu confidente): Léo, o ‘fulano’ quer vir aqui.
Léo: Deixe ele vir, mãe. Eu gosto dele. O ‘fulano’ é legal.
Eu: Mas Léo, eu e você sabemos o que ele quer e eu não estou afim.
Léo: Fala pra ele trazer um Big Mac que ‘tá’ valendo.
Eu (indignada): Leonardo! Larga de ser uma p*ta barata! É da minha *** que estamos falando.
Leo: Ué… se todo mundo vai comer alguma coisa, por que eu também não posso?



(continua...)

domingo, 17 de maio de 2015

Rebuliços de um lar tranquilo

Cheguei em casa, depois de um dia exaustivo. Naqueles dias que tudo que você quer é um bom banho, pijama e cama quentinha.
Mas a realidade não é exatamente a tranquilidade do lar.
Entrei e ao subir as escadas, ouvi a Mel chorando copiosamente. Chorava de soluçar.
Apressei o passo e a vi deitada no quarto, de bruços. Questionei o que aconteceu e ela me abraçou ainda chorando, contou. Tinha brigado com o irmão. E sentia profundamente por isso.
Conversamos, acalmou-se e eu continuei com o pretendido roteiro de apenas descansar.
Banho tomado e conversas em dia. 
Pretendia dormir e desejamos boa noite a todos.
As meninas foram pro quarto. Dividimos parede. Consigo ouví-las sempre, seja conversando, rindo ou discutindo.
Foi o que aconteceu.
A discussão foi aumentado, os tons alterando e era visível a indisposição das duas.
As chamei de volta pro meu quarto e pedi: Vamos conversar?
Elas me olharam com aquele olhar de quem não pode desaprovar o pedido de mãe, mas de quem não tinha a menor intenção de ouvir conversa chata, argumentos que para elas, naquele momento de discórdia, fariam sentido nenhum.
Eu afirmei: “Vocês não fazem ideia de como é bom ter irmão”. E uma delas respondeu: “Eu não acho”.
Invés de ordenar que parassem ou exigir qualquer comportamento, comecei a perguntar se lembravam sobre a época que a minha irmã tinha ficado doente. Elas mencionaram negativamente com a cabeça ainda suspirando fundo em reprovação à minha abordagem, com alguma impaciência.
Contei rápido sobre o medo que senti desde a certeza de tumor maligno, do quanto a família se esforçou em estar junto e do medo que sentia de poder aproveitar pouco a minha irmã, se aquele tratamento não tivesse resultado positivo. Comecei a me emocionar e as expressões delas começaram a alterar, de quem não queria ouvir nada para quem começa a entender algo.
Em seguida perguntei se lembravam da doença da Julia. E nem mesmo a própria Julia conseguia lembrar. Recordei que ela e o Léo brigavam feito cão e gato, e que mal conseguiam ficar juntos no mesmo ambiente.
Quando a Juju foi diagnosticada com doença que tinha levado embora seu amigo próximo, todos nós entramos em pânico. O Léo era novo, mas com esperteza suficiente para entender que o pior poderia acontecer também à irmã. Sua reação em nosso encontro após a Julia ser internada foi me abraçar e chorar. Ele soluçava em prantos e dizia “ Eu não quero que a Julia morra”.
Terminei a conversa, olhando sempre para elas, que neste momento, tinham os olhos marejados, com as lágrimas prestes a cair e pedi para que se olhassem. Não exigi abraço ou que pedissem desculpas. Apenas apontei: “Vejam como estão emocionadas. Isso se chama amor. E sentimos isso uns pelos outros todo o tempo, mesmo que a convivência e nossos defeitos, às vezes, ocultem isso.”
Demos um abraço longo e elas foram dormir. Não ouvi nada mais do quarto ao lado.


Mas dentro de mim, minhas verdades começaram a eclodir.
O barulho interno era avaliação sobre o quanto somos capazes de amar, o quanto queremos bem à outro e tão pouco deixamos isso claro.
Questionei-me sobre as pessoas que quero bem, e  quero próximas, e se elas têm certeza sobre esse meu sentimento.
A única certeza que tive é que ocultamos muitas vezes palavras boas, e boas intenções, presos aos nossos dogmas ou as escondemos em nossa casca natural, de quem envelhece e se cansa de tanto apanhar.
A verdade é que todo convívio enfraquece bons hábitos, como falar sobre amor e entregar carinho constante, porque ficamos presos ao ignorante comodismo de achar que o outro sabe que o queremos bem.
Não é bem assim: o calor enfraquece, a dúvida assola e o coração vacila no seu primário habito de aquecer a alma, se não se falar de amor.
Amor é incentivo diário, que se rega com carinho, palavra, gesto. E que enfraquece, mesmo aquele cheio dele, se não for adubado constantemente. E que não deve nunca ser entendido pelo medo da perda, mas pela consciência exata de que deve ser mantido aquecido pelo seu contínuo uso. Seja pelo parente próximo, pelo amigo, pelo companheiro.
Que para o amor não se pode ter preguiça ou egoísmo. 
E que um lar tranquilo requer alvoroço constante sobre nosso comportamento e como nos deixamos (ou se nos deixamos) entender.
E que nossa maior falha, talvez seja, exatamente, querer deitar-se em cama quente, pijama limpo, consciência tranquila, mas coração não transbordado (e extravasado) de amor. 



domingo, 10 de maio de 2015

Feliz dia, filhos


Eu pensei em um milhão de formas de escrever hoje.
E foi difícil chegar até aqui.

Então, decidi apenas agradecer.
Mas eu não vim agradecer às mães. Vim agradecer aos filhos.
Escrevo para agradecer aos meus três filhotes e aos filhos de outras tantas mães que entenderam qual a real perspectiva da vida, pós maternidade.

Obrigada, filhos, vocês fizeram milagre.
Vocês ensinaram a nós, desde de um risco em teste farmacêutico ou um positivo em papel timbrado, que a vida não foi feita para se viver só.
É fato que vocês mexeram conosco. E agora, não cito o corpo que deforma, o enjoo jus à gestação, as noites de insônia, ou a preocupação com suas decisões e ações. 
Vocês mudaram nosso mundo, quando encheram o pulmão com ar dolorido e frio, e por isso choraram. Mas abrandaram o medo com nossa voz.
Vocês aqueceram nossos corpos, quando ainda nus e sujos, apoiaram aquela cabeça pequena em nossos colos.
Vocês nos modificaram quando abriram aquela pequena boca e sugaram seu alimento de dentro de nós: quando nos percebemos mamíferas e responsável pelo sustendo de uma cria.
Vocês encheram nossa alma com uma cor lilás e colocaram um sorriso em nossos lábios quando seguraram com aquela mão minúscula um único dedo que demos à vocês.
Vocês, no primeiro dia de vida terrena, em um único dia,  já fizeram corações cheios de cicatrizes, insuficiências, problemas ou limitações, baterem fortes, vívidos, intensos, e imediatamente prontos para distribuir todo o amor ele preenchia.
Vocês nos ensinam, filhos. Nos ensinam que somos humanas, com um toque celestial, quando podemos doar o nosso amor a vocês.

Vocês nos remetem ao extremo do altruísmo, quando entendemos que é preciso dedicar-se e apenas doar, para receber o que há de melhor.
Vocês ensinaram que existe amor, e este amor, vem cheio de imperfeições como ciúme, possessão e que eles podem ser controlados.
Vocês permitiram que nós começássemos a perceber os nossos defeitos e que precisaríamos derrotá-los para sua boa formação.
Vocês, desde pequeninos, nos fazem avaliar nossos comportamentos, nossa idoneidade, conduta, hábitos e costumes.
E acreditem, nós aperfeiçoamos. 
Sabemos que somos falhas, filhos, e nos perdoem por isso.
Somos apenas pessoas, como vocês são, quais estigmas, memória  e educação, advém de formação tão dolorida quanto a de vocês (do mundo e seus intempéries).
Vivemos nossas vidas, queridos filhos, buscando encontrar sentido para tanta dor,  sofrimento e angústia do mundo, como vocês mesmos querem (ou quererão) entender.
E a resposta, a nossa resposta, dá-se a cada sorriso, abraço, confidência que vocês nos oferecem.
Obrigada filhos, somos alunos do aprendizado que vocês nos dão.
Todos os dias nossos serão de vocês, e somos gratas pela imensidão de amor que nos fizeram mergulhar.
E nosso desejo é que vocês sejam felizes. E então, nossos dias também serão.


Dedicados à Leo, Julia e Mel