domingo, 29 de março de 2015

Em letras bem escritas



É incrível a capacidade das letras transformarem nosso dia.
Às vezes, uma só frase, muda seu dia, seu humor, seu astral.
E para um bom leitor, nada melhor que ler palavras bem redigidas, com acentos em seus devidos lugares, vírgulas devidamente colocadas, e frases bem pontuadas, seja em exclamação, interrogação ou mesmo um bom ponto final.
Nada melhor que ler o que se quer ler, em letras bem escritas, em um português correto, com seus devidos adjetivos, subjuntivos e substantivos.

Seja qual for a pessoa, desde a primeira do singular à terceira do plural, um texto muda ou formata sua opinião sobre alguém. 
Hoje em dia, em nossos micros textos e mensagens instantâneas, erra-se absurdamente por um tal corretor ortográfico que nos faz cometer as mais absurdas gafes e alguns constragimentos, que podem ser consertados imediatamente com um asterisco na próxima frase, asterisco qual já quer dizer por si: “Ops, desculpe, errei.” 
Mas, às vezes, acontece de você ler alguma palavra que veio solta, lá no meio de algum flerte, com um S onde deveria ser C, cedilha onde o tal C não precisa de rabo, acentos sem propósito, verbos sem conjugação, e tantos outros erros grotescos que fazem o leitor torcer o nariz e se perguntar: “Hein????”
Ahhh, e por falar nele, esse tal “hein” é umas das interjeições mais escritas erradas. O povo adora escrever como se fosse preposição, e enfia grosseiramente um “em?’’ no final de uma frase, onde o leitor, coitado, tem que se transformar em adivinho para entender que a intenção era apenas uma confirmação de resposta.

Algumas palavras, fazem o interesse diminuir automaticamente, como viagem escrito com J, chapéus e degraus que terminam sua sina em éis, ‘a gente’ que vira substantivo e detetive ao mesmo tempo, ‘menas’, ‘meia’ no lugar de metade ou pouco, “querido, quero’ escritos com K, e tantas outras palavras que uma tal modernidade (e a falta de instrução do nosso povo) faz a língua portuguesa morrer aos poucos e com ela, bons modos, boa dicção, boa verbalização… predicados que faz muita gente mais interessante.

Um texto bem escrito, bem colocado, tem a sua sensualidade. É possível apaixonar-se por palavras devidamente escritas, vírgulas acinturadas, pontos suspensos ou escancarados. Letras bem colocadas trazem a magia de um autor… faz com que você queira ler mais, virar a página, descobrir mais sobre ele, desvendar mais mistério.
Da mesma forma, uma única frase mal escrita, pode fazer um relacionamento acabar.

Uma amiga, em papo informal, conta que rolava uma paquera por mensagem de texto, e o dito cujo termina o assunto com um “se falemo”. Ela nunca mais falou com ele, claro. Mas a palavra, até hoje, é motivo de risos entre nós, que brincamos com a analogia de parecer nome de remédio, a atrocidade que o personagem fez com o português. “Cefalemo” é um remédio cujo efeito colateral é dor de cabeça, nós rimos. E vira e mexe, o tal sujeito é citado quando alguém fala ou escreve um português erradinho: “Esse é um cefalemo”, nós brincamos.

Nosso português é uma língua difícil, chata. Tem muitas variações, já teve muita mudança. Pergunte para qualquer estrangeiro que queira aprender nosso idioma. É quase impossível. Até mesmo nós, nativos, nos enrolamos todos com ela… Hoje, não se sabe mais onde tem hífen, acento. Mas tem o tal corretor pra dar uma ajuda. Fora isso, um zilhão de jornais, revistas e livros já escritos, que são a fórmula para aprender a escrever.
Não é preciso saber fazer análise sintática, coisa chata eram as aulas nesse período, onde precisávamos entender a estrutura da oração. Separávamos o sujeito do predicado, e tentávamos com toda a força entender o que integrava aquela frase.


Nada disso se requer, quando você lê uma frase com sujeito nada oculto, que vem permeada de bons adjetivos à sua pessoa (melhor ainda, predicados às suas letras), estrutura bem formulada, em português correto, com complementos nominais interessantes e objeto direto. Nada de análise morfológica, nem sintática. Apenas a iniciativa direta em palavras bem escritas. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Façamos nossos filhos chorar


Será que estamos fazendo o certo?
Estamos educando nossos filhos corretamente?
O que tem sido mais importante? Estar ausente em função de nossos trabalhos, para que possamos pagar uma boa escola ou estarmos presentes e ao lado, e apoiá-los em seus deveres, corrigir seus comportamentos e dar carinho e colo e, principalmente, exemplo?
O que faria de nossos filhos pessoas realmente importantes? E o que os fariam boas pessoas?
Educamos nossos filhos para serem bons profissionais? Forçamos ao estudo em escola forte, idiomas e complementos, para que sejam pessoas boas ou para que sejam melhores que outras pessoas?
Será que não deixamos de lado o quanto é importante formar um bom humano?
Ensinamos, instruímos e pagamos por tantos estudos deles, mas os ensinamos a serem humanos bons?
Não deveríamos apoiá-los a chorar ao invés de ensiná-los a serem fortes?

Seria tão importante ensiná-los a chorar…
Deveríamos nos orgulhar dos filhos que choram e de quando mostram seus sentimentos. E não o contrário, e dizer que precisam ser irredutíveis, secos, ocos ou insensíveis.
Deveríamos querer que chorem e se emocionem com todos os eventos  e estamos deixando passar.
Nossos filhos devem chorar ao saber de uma nova gestação. Devem se emocionar ao ver um bebê.
Devem apontar ao sol e às cores que este forma no céu e devem sentir a emoção e gratidão por fazerem parte disso.
Devem notar o quanto linda é a natureza, visualizar novas flores, apontar a beleza das plantas, do mar... 
Devem emocionar-se numa ninhada nova, perceber o quanto pequeninos filhotes são perfeitos em sua fragilidade e protegê-los: aos animais pequenos e aos adultos.
Devem sorrir em abraço apertado e devem saber o quanto de amor pode caber em um abraço de saudade.
Devem chorar de saudade, mas devem, principalmente saber o que fazer quando se estiver ao lado.
Deveríamos nos preocupar em falar do Universo e fazê-los perceber a grandeza dele. Devem saber olhar as nuvens, imaginar formatos nelas, brincar com os desenhos no céu.
Devem não ter embaraço em fungar em filmes com finais felizes e que devem desejar que o mocinho se dê bem no final.
Devem distinguir o bem do mal e que façam o bem prevalecer.
Devemos ensiná-los quando falar, quando calar e quando abraçar.
Devem escolher ler a um livro, ouvir ao som do mar.
Devem andar descalços pela terra, plantar árvores e ver suas árvores crescerem e darem frutos.
Devem aprender a falar a verdade, mesmo que a verdade chegue com algum tato para não magoar ao ouvinte.


Devem saber falar de amor, e devem saber dizer "eu te amo" pessoalmente, olhando nos olhos, e não só por mensagem de texto, ou por rede social.
Devem saber falar de sexo, mas devem, principalmente saber fazer amor e a conduzir um.
Eles devem crescer, mas não devem deixar a criança interna morrer.

Devemos ensinar aos nossos filhos a chorar, deveríamos querer que chorem, porque o choro é remédio que cura muita dor, ao menos, esvazia a angustia, e uma das piores coisas de sermos adultos é nos depararmos com outros adultos angustiados, depressivos ou isolados porque não aprenderam a lidar com suas dores.

Deveríamos apoiar mais ao choro de nossos filhos e incentivá-los a chorar, para que se tornem pessoas que saibam sentir, saibam expressar e saibam ser gratas por todo amor que em seus caminhos cruzar.
Façamos-os estudar em boas escolas. Apoiemos-os a terem bons complementos, mas principalmente, mostremos-os que as boas pessoas são boas em seus princípios, moral e emoção. 
E que, as melhores pessoas do mundo, são aquelas que se emocionam com o amor, e o fazem extravasar.






terça-feira, 17 de março de 2015

Perseguindo as estrelas

Hoje é dia de agradecer.
Daqueles dias de ajoelhar, postar as mãos e orar com toda a força.
Não que nos outros dias essa gratidão deixe de existir, mas hoje é dia que marca nova etapa, aniversaria uma carreira.
Hoje é data da minha maioridade na aviação. Faz exatamente 18 anos que fui contratada para cuidar de muitos alguéns.
Há exatos dezoito anos, assinava contrato dizendo que iria abdicar de muitos momentos meus, e seria responsável pela segurança e conforto de outros.
Abri mão de datas importantes, alguns momentos com minha família, para cuidar de gente importante para os outras famílias.
E aprendi o tempo inteiro que, na verdade, o que eu fazia era nada além de cuidar de mim e dos meus.

Foi ficando distante que aprendi o valor de estar junto.
Foi trabalhando com afinco e amor que entendi o valor da moeda que nos permite ter o pão e o lar.
Foi cuidando da segurança de muitos que descobri que devo ter cuidado com cada passo, cada atitude, porque tudo terá causa e consequência.
Foi sorrindo inúmeras vezes com o coração esmigalhado, que descobri que o amor que vive em nós, junta pedaços partidos. E ainda, que não haverá amor maior do que entregar aquilo que está quase acabado, ele (o amor) só se recompõe se você se dispuser a entregar o que tem.
Foi servindo a tantos que nem conhecia que descobri que, o que nos faz estar mais próximos de Deus é o próprio ato de servir, cuidar, ser atento a necessidade do outro, mas não por pagamento, e sim por amar o que se faz.
Foi separada dos meus que aprendi a ouvir e fazer amigos como um passe de mágica, e aprendi a amar à distância.

Hoje faz 18 anos, e eu sou tremendamente grata a todo Universo por essa oportunidade.
São dezoito anos vendo o céu em sua plenitude.
São muitos anos descobrindo que mesmo cheio de nuvens pesadas, depois dessa camada, se encontra céu azul. 
São muitos anos percebendo que até mesmo em céu azul, claro e limpo, você pode passar por uma grande turbulência advinda de outros ventos.
São muitos anos vendo o sol fazer sumir em horizonte curvilíneo e deixando o que deveria ser escuridão total, ser dominado por pontos de luz brilhantes.
São muitos anos vendo o breu dessa escuridão ser dominado pela força do rei sol que colore magistralmente sua chegada, cheia de calor.
São muitos anos, são lindos anos maravilhosos, e eu sou grata por cada dia desses dezoito anos que persigo as estrelas.


terça-feira, 10 de março de 2015

Abissal privado

Minha filha Mel, no auge da sabedoria dos seus 9 anos, me chama de canto e diz: “-Preciso falar com você”.
Me preparo para todo o tipo de conversa, com a seriedade da afirmação e ficamos sozinhas. “-Você me desculpe, mãe, mas o assunto é intimo."
Respiro fundo para mais algumas respostas, e afirmo que ela não deve se preocupar, pode confiar em mim e que está certa em falar sobre intimidade comigo (coisa que já fizemos inúmeras vezes).
“-Não, mãe, não é sobre mim que quero falar. É sobre você.”
E me permeia de perguntas cheias de lógica e dúvidas, algumas demasiadas de curiosidade simples e outras complexas, já regadas com seu parecer.

Tenho sido abordada com as mais variadas perguntas e em todas elas, seja qual a formulação, uma única questão: por que você está só?
Tenho respostas em abundância, independente de como fui questionada, e para todas, a conclusão do questionador: você está certa.
E eu, repleta pela minha firmeza e de respostas, auto-afirmo: sei que tenho razão.

Sou quem acredita em relacionamento. Quem adora o convívio, a paixão e intimidade de uma relação a dois.
Mas fui quem quis separação e quem evita a dor de qualquer convívio que traga desconforto.

Sou quem está quieta num cantinho interno, se olhando, avaliando e mirando o mundo ambíguo: cheio de pessoas que se divulgam em fotos felizes… pessoas que mostram o quanto estão plenas, alegres, bem sucedidas ou em boa forma física. Com frases de efeito e auto-afirmação. E que são tristes em seu íntimo.
Leio muitas, muitas pessoas se dizerem espiritualizadas, formularem sentenças de agradecimento aos céus e a seus comandados, e ao mesmo tempo, maldizerem pessoas que estão próximas.
Vejo fotos de homens e mulheres lindos, bem resolvidos, que procuram quem os ame interiormente, colocarem ênfase em seus músculos, bocas, ou decotes voluptuosos.
Vejo quem se diz completo e realizado, com casamento perfeito e família saudável, relacionar-se intimamente (e secretamente) por uma noite apenas, pela razão de manter a chama da relação fixa (aquela que ficou em casa) acesa.

Me perco nesse mundo inexato e nele acho a resposta para a Mel ou para todas as outras pessoas curiosas. Acrescentei em todas as respostas o fato de ter meu trabalho, ser independente, já ter minha família, e saber exatamente o que eu quero. Quem passa mais de 10 minutos ao meu lado, concorda com  essa explicação. “Quem é mergulhador, distingue imediatamente o que é raso, e se abstém da desventura do que se encontra em água pouca.”

Mas a verdade, é que seja eu com meus pensamentos pudicos, seja outro alguém com a verdade pervertida, seja quem for que não tenha encontrado parceiro, apenas não teve a sorte de o Universo traçar um encontro entre apenas duas pessoas dentre os mais de 7 bilhões que ocupam esse mundão afora. Pessoas que terão defeitos, mas que saberão que com aqueles defeitos ali, dá pra se conviver. Pessoas que gostarão das mesmas músicas, dos mesmos lugares, terão amigos parecidos. Pessoas com afinidade na esportividade ou na preguiça. Parceiro pra risada e pros desafios da vida. Aquele que pega na mão na hora do sonho, na hora do medo ou na hora do mergulho em mar profundo.

Respondi para a Mel, todas as respostas que pareciam certas na hora de responder. Não menti para ela, mas omiti um fator de suma relevância. Eu e os outros que estamos sós, podemos achar que estamos sós porque escolhemos assim neste momento, mas a verdade é que apenas não nos deparamos com quem venha fazer toda resposta anterior deixar de ter sentido. E então, deixaremos de ter razão sobre tudo o que dissemos antes. E mergulharemos.
E intimamente, nem que seja bem lá no fundo (do nosso abissal privado), estamos doidos de vontade de perder a razão.