quinta-feira, 24 de julho de 2014

"Eu preciso de férias. Férias dos meus grilos. Férias dos meus trilhos.
Preciso dar um tempo pra toda regra, pra toda sobra, pra toda roda que me faz girar, girar e voltar pro lugar.
Eu preciso de menos vias, menos pavimento, menos cimento e qualquer coisa que engesse ou caleje meu caminhar.
Eu preciso mesmo é de mais caminhos, mais carinhos, mais motivos pra me perder em qualquer lugar."

Mariani Lazari - Frases

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O menino chamado Tempo


Não existe nada mais poderoso que o tempo.
Ele é dono de toda razão existente no Universo.
Ele faz e desfaz o que quiser.
Apaga, desapega, cicatriza, conserta, adormece.
A distância física nem é tão poderosa... mas o tempo... ahhhh o tempo... ele é capaz de minimizar qualquer calor, qualquer amor, qualquer dessabor.

O tempo é menino travesso, que ri ou gargalha da gente, gritando aos quatros cantos do mundo: "Vocês não sabem de nada!"
É menino que passeia, pulando, ao redor de qualquer situação, com lindos balões coloridos, em calças curtas presas em suspensório, que se diverte conosco, enquanto nós não entendemos nada do seu comportamento.
É criança travessa, que atravessa nossa vida, mesmo sem convite, nos indigna em inúmeros aspectos e desobedece a nossa ordem de: "Sossega, menino!"
Às vezes, ele corre ao nosso redor, nos deixando tontos. Outras vezes, corre de nós, a perder de vista.
O tempo é rápido, é sagaz, malandro.
Ele nunca fica quieto. Ele nunca para de correr.

Ele só irá adormecer o dia em que, nós, humanos tontos, bobos, não sábios, pedirmos para ele: "Por favor... me dê mais algumas horas!"
Só que dessa vez, quando o alcançarmos e ele estiver tropeço, sem fôlego, diminuindo seus minutos... nessa mesma hora, ele fechará os olhos como quiser, com sorriso a meia boca. Dormirá profundamente e ainda é capaz de soltar um:  "Eu não disse?"

E nós teremos, mais uma vez, que obedecer a sua ordem, mesmo mentalmente gritando: "Por favor, menino, volte a correr..."

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Como em um conto de fadas


Eu tinha só 21 anos. 
Para quem tem menos que isso, parece idade sensata, quase madura. Aliás, para quem tem menos que 18, parece que depois dele, tudo será automaticamente adulto, fácil e responsável.
Mas hoje, tantos anos depois, vejo meus 21 com tanta pureza, que os vejo quase infantis.
Mas foi lá, aos 21 anos de idade, onde fui sozinha ao laboratório, fazer exame de sangue, Beta HCG.
E após 3 dias de nervosismo puro, abro o envelope, ainda dentro do carro. Misto de pânico e vontade. Positivo era o que estava escrito.

Descrever sensações de ser mãe nova, que vivia relacionamento conturbado, imatura, tomaria tempo demais, e daria audiência demais para fatores nada importantes perto do que aconteceu depois.
Aconteceu depois que meu sonho se realizou: Sempre sonhei em ser mãe. Quando criança, não me imaginava médica, ou bailarina, advogada... O que for... Tinha desespero em crescer e poder ser mãe. 

Eis que, no dia 17 de julho de 1998, meu sonho se realizou. Veio ao mundo, parte minha, parte do Adriano, o homem mais lindo que já conheci.
Menino que chegou ao meu lado, choramingando, e a pediatra, com toda a sensibilidade do mundo, apresentou: "Essa é sua mãe. Você morava dentro dela. Agora ela quem vai cuidar de você!"
A médica encostou aquela cabecinha em mim, eu senti seu calor e cheiro, percebi só naquele momento que tudo era verdade, e disse: "Oi Léo! Bem-vindo, meu amor! Não precisa chorar, está tudo bem." E ele pareceu entender ou reconhecer minha voz, e parou de chorar, com olhos que sentiam o peso de tanta luz, mas ouvidos que sentiam conforto naquela voz tão conhecida.

Nos meus devaneios em ser mãe, quando criança, me via conversando com um menino, e dizendo a ele que ele era uma 'figura'.
Acertei.
Eu o vi crescer, esperto, falante, sendo amado, carismático, inteligente. Fazendo associações e piadas desde sempre. Uma figura!

Vi o Léo passar por tantos momentos onde qualquer pessoa justificaria como traumático. Ao invés de reclamar, questionar... O Léo observava, às vezes, até fazia alguma pergunta pertinente para entender o fato, e concluía que ficar na dele, em paz, era o melhor remédio.
Vi um espírito, muito evoluído, crescer ainda mais.
Vi o cara crescendo rápido. Questionando corretamente. Indagando questões que nem para a sua idade eram pertinentes. 
Vi uma criança sábia, com destaque no estudo, com facilidade de aprendizado, ganhar o mundo e fazer muitos amigos. E ganhei um companheiro na mesma velocidade.
Vi este menino virando moço, falando de medos, de conquistas.
Participei de decisões dele, com a audácia de quem teria alguma coisa a mais para oferecer.
Conheci um homem sábio, que me interroga, das questões mais íntimas às questões mais complexas, como quem quer aprender sempre, mas na verdade, tem muito mais a ensinar do que a ouvir.
Recebi um companheiro que sabe falar de música clássica à metal. Sabe de autores literários  renomados à jogadores de basquete, futebol. Fala de biologia, química, sexo à mitologia grega. 
Ganhei um companheiro para piadas, ironia, sarcasmos da vida.
Um amigo pro meu futebol que tanto adoro.
Um filho tão atencioso, que despende parte do seu tempo para ouvir à mim.
Um parceiro que se desloca da casa do colega, para voltar pra casa, só para conversar comigo, por saber que eu preciso.
Um homem que se preocupa em perguntar: "você está feliz?" quantas vezes forem necessárias, até ele acreditar, de fato, que eu realmente estou.
Um homem que acompanhou minhas mudanças, e torce por elas.
Um cara que me elogia, incentiva, agrada. Faz surpresa, deixa carta, faz carinho, massagem e cafuné.

Eu recebi, como presente, há 16 anos, o relacionamento que todas nós, meninas que vimos contos de fadas, esperávamos acontecer.
Ele não veio em cavalo branco, nem apareceu na floresta, nem chegou cheio de ouro.
O homem da minha vida, chegou, quando eu tinha apenas 21 anos, e veio, literalmente, despido de qualquer bem material. Mas completo de amor. E nasceu de dentro de mim!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Amor próprio


Enxergo meus defeitos, mas não me martirizo com eles.
Exalto minhas qualidades, mas não me contento com elas.
Determino meus objetivos, mas não me sacrifico em nome do que não aceito.
Estabeleço metas, e busco em mim qualificação para obtê-las. 
Enxergo melhorias e não culpo aos outros.
Cresço em constância para que pequenas quedas não sejam grandes tombos.
Me atualizo de forma que o negativo não se sobreponha ao positivo.
Eu não quero o que não é meu.
Não convenço ninguém de quem sou.
Prefiro estar em paz comigo, do que armando guerra com alguém.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

Efeito Angélica

Pedro amou Angélica.
Amou Angélica intensamente. Via nela o anjo e o demônio que vemos quando amamos verdadeiramente. Tinha nela a segurança, certeza, reciprocidade, planos, projetos, química, companheirismo, inteligencia, diversão, prazer, colo, amizade.
Angélica foi completa. 
Até deslizar: até deixar de ser parte anjo e ser demônio completamente, no dia que deixou a carne falar mais alto e sucumbiu à aproximação de Julio.
O mundo de Pedro ruiu. 
Pedro parou naquela parte do poço onde todos nós já estivemos. Onde é escuro, lamacento, frio, úmido. Onde vozes gritam dentro de sua cabeça. Onde o coração dilacera. Onde o tempo para. Onde tudo parece infinito, indeterminado, imprevisível.

Como todos nós também, Pedro, um dia, descobre que a única saída é para cima. E reunindo todas suas forças, escala, com corpo puído, a jornada de retorno ao mundo. E o poço se torna apenas memória latejante.

...
Pedro, claro, sobreviveu. E viveu. Podemos dizer que bem.
Conheceu outros amores. Viveu outros sabores. Mas nunca como o da Angélica.

Outras Angélicas apareceram. E essas outras Angélicas eram quem faziam os joelhos de Pedro não terem força. Nestas outras Angélicas Pedro achava o amor que sempre acreditou existir.
Mas, por causa daquela primeira, Pedro não queria mais Angélicas.
Pedro não queria mais nada que não fosse controlado, que não fosse dependente, que não fosse previsível.
Apesar de sentir amor por outras Angélicas. Pedro não queria mais sentir amor.

Pedro não quis mais sentir.
Pedro preferiu uma fórmula.
Preferiu controle.
Deu vez à razão, encontrou Patrícia, e fez com ela o que pensa ser direito: construir família, mesmo sem emoção, mesmo sem borboletas no estômago, mesmo sem amor absoluto.
Pedro aprendeu a amar Patrícia. Porque Patrícia depende de Pedro para viver. E enquanto ele estiver no controle, ele encontra adormecido o demônio instalado nele há tantos anos.

Enquanto Pedro conheceu Angélicas, ele sorria feliz. Ele suspirava, ele sonhava.
Mas não foi isso que ele quis.
Ele prefere adormecer em sua solidão acompanhada de corpo quente, de coração morno.
Enquanto as Angélicas adormecem sem seu Pedros, chorando vida que se arrasta em desconsolo, porque Pedros não querem viver Angélicas.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Talvez eu seja a pessoa errada.

Talvez eu esteja como a pessoa errada.
Com práticas errôneas, vivendo assim, sem fórmulas.
Talvez eu seja quem peque, quem dissimula, quem é covarde.

Talvez, nessa minha ânsia de encontrar paz no coração, em ter pensamentos amenos, em querer fazer bem. Em desejar sorrisos, seja eu, a pessoa que não se encaixa.
A pessoa que não tem melindre, que quer ser de verdade, que não suporta chantagem.
Sou eu quem se desfaz do que não é retribuído, quem não tenta convencer aqueles que não querem minha companhia.
Quem se afasta na falta, quem quer ser independente.
Quem deixa a natureza fêmea de lado e enfrenta o mundo e suas crueldades, suas mentiras, suas banalidades e fatalidades.

Possa ser eu quem está contra um mundo inteiro onde predominam pessoas tão vazias, de sorrisos falsos, de amores inventados, de desejos materiais, onde o dinheiro e o interesse são alvo.
Onde marcas, status e títulos se fazem presentes, sou a pessoa que se vê distante.

Talvez, esteja indo contra um sistema inteiro, deitando minha cabeça no travesseiro e repensando as atitudes que poderiam me fazer pessoa melhor.

Talvez seja até banal, achando que o amor deveria predominar, que pessoas deveriam se respeitar: que devo olhar o mundo como um todo e entender que toda ação muda um ciclo inteiro desde a menor vida, até a que ocupa mais espaço físico.

Talvez eu seja a pessoa que erre querendo ver todos bem.

Posso ser quem se equivoca, quando me afasto, na ânsia de encontrar apenas em mim, as respostas para questões internas, e quando deixo de culpar aos outros, pelos meus desenganos.

Posso ser pessoa tola, quando me doo, mesmo sem forças para enfrentar meus próprios fantasmas.
Posso ser quem se engana, tentando encontrar amor, num lugar onde sexo e futilidade se fazem tão presente.

Posso ser pessoa errada. Mas ainda me convenço que estou errando da forma mais certa que consigo ser.